Panegírico

 

Panegírico em louvor a Huberto Rohden - 31/11/1893 - 07/10/1981.

Por: Vanilda Tenfen Medeiros Vieira.

Apresentado no dia 25 de outubro de 2007,  às 16h00min, Casa da Memória - Florianópolis - SC.

 

Introdução 

Comentaremos apenas um livro de HR*, ou seja, "O Caminho da Felicidade", o qual foi recentemente reeditado pela Editora Martin Claret em seu texto integral, constando de um "Curso de Filosofia da Vida", da Coleção "Obra-prima de cada autor". O objetivo da Martin Claret com a publicação dos 35 livros melhores, relacionados com critério rigoroso (em 2005), é continuar divulgando grandes autores. A Editora afirma: "O critério de seleção dos títulos foi o já estabelecido pela tradição e pela crítica especializada".

Observa-se, no rol das obras escolhidas, pela editora, ao final deste livro, 10 títulos de HR, dentre autores tais quais: Maquiavel, Machado de Assis, Balzac, Visconde de Taunay, Julio Verne, Luís de Camões, Platão, Kafka, Castro Alves, Raul Pompéia, Dostoievski, José de Alencar, Aristóteles, Shakespeare, Marx, Olavo Bilac, Nietzsche, Cícero, Eça de Queirós, Victor Hugo, e outros.

Os títulos selecionados de Rohden são: "O Sermão da Montanha", "De Alma para Alma", "Sabedoria das Palavras", "Porque Sofremos", "Mahatma Gandhi", "Einstein: O Enigma do Universo", "Setas para o Infinito", "Paulo de Tarso" e "O Caminho da Felicidade". 

Parentes Ilustres de Jacó Bruning

Huberto Rohden

Vida & Obra 

Em muitos dos livros escritos por Huberto Rohden encontramos seus traços biográficos. Salientamos o que está exposto na obra "O Cristo Cósmico e os Essênios", que é uma coletânea de diversos textos de Huberto Rohden, por ser uma biografia alusiva a seu centenário de vida (1893 – 1993). É um verdadeiro inventário de sua vida e obra, elaborada por Martin Claret Editores. Também em "O pensamento vivo de Huberto Rohden" foi incluída uma cronologia da vida e obra do filósofo- teólogo-literato de nome nacional e projeção internacional.

Apreciamos também os dados autobiográficos constantes nos dois volumes de "Por um Ideal", uma vez que é o próprio Rohden quem fala de si mesmo.

Em quase todas as suas obras constam dados referentes à sua vida, e assim, podemos apreciar a proeminência desse vulto, um brasileiro ilustre, nascido em Santa Catarina, que só agora, em julho do ano de dois mil e sete, teve seus restos mortais sepultados com as devidas honras, em São Ludgero.

Graças ao empenho de muitos parentes, amigos e autoridades de São Ludgero e de São Paulo o sonho virou realidade. Rohden retornou à sua terra natal.

Encontramos a primeira dificuldade, ao estabelecermos o nome de sua cidade natal. São Ludgero era um pequeno lugarejo que se tornou município só mais tarde. Pertencia a Braço do Norte, que anteriormente, era abrangido por Tubarão, como toda aquela região. Por tal motivo encontramos esses três nomes de cidades que hoje são emancipadas, como terra de origem de Huberto Rohden.

Nasceu Rohden às seis horas do dia 30 de dezembro de 1893, sendo filho de Anna Locks e João Rohden Sobrinho, descendentes de imigrantes alemães, mas nascidos já no Brasil. Huberto Rohden é o sétimo filho dentre os quatorze que seu pais tiveram. Como sói acontecer com as crianças que vivem na zona rural, Huberto Rohden viveu uma infância em contato com a natureza, os animais e as plantações. Desde cedo chamou a atenção geral pela inteligência, sendo convidado pelo sacerdote alemão Johann Kloecker para receber aulas de catecismo, Latim, Matemática, Francês, e para freqüentar o Seminário Católico, no Rio Grande do Sul.

Com os padres Jesuítas estuda Filosofia, Teologia, Grego e Latim novamente. Em 1915 já escreve para a revista estudantil "O Eco". Publica versos nas revistas "Beija-Flor" e "Vozes de Petrópolis" dos padres Franciscanos. Seu primeiro livro é uma comemoração por sua ordenação sacerdotal, "Tu és o Cristo, o Filho de Deus Vivo". Em 1919 é encaminhado a Florianópolis. Sua amizade com Dom Sebastião Leme, Arcebispo do Rio de Rio Janeiro, começa quando escreve e envia a obra "Mistério do Amor"

Assim vão se passando os anos de profícua atividade literária, sendo seus escritos sucessivamente lançados e apreciados por todos. Huberto Rohden ainda faz traduções e adaptações de diversos escritores. Em 1925 embarca para a Áustria, a fim de freqüentar cursos de Ciências Naturais e Filosofia.

No livro autobiográfico "Por um Ideal" Rohden conta de seus estudos psicológicos e suas experiências parapsicológicas na Alemanha.

Esteve durante seis meses na Holanda, depois em Roma e Nápolis, onde escreveu "Alma Eucarística".

Retornou ao Brasil já muito aureolado e com a primeira parte do livro do Novo Testamento pronta. Após, é mandado para Cocal, no sul de Santa Catarina. Nessa altura, já pensa em sair, pacificamente, da Ordem dos Jesuítas, devido certos desentendimentos a respeito de convicções filosóficas.

Publica "Lampejos", jornal gratuito. Inicia importante movimento editorial, a "Cruzada da Boa Imprensa", e se instala no Rio de Janeiro. Seu projeto é viajar por todo o Brasil, proferindo conferências e palestras. Percorre muitas cidades de todo o país. Nessa época, escreveu "Paulo de Tarso".

A partir de 1940, é lançada uma intensa campanha contra os escritos de Huberto Rohden, e, com a morte de Dom Sebastião Leme, os seus livros são proibidos oficialmente, por Dom José Gaspar de Afonseca e Silva, Arcebispo de São Paulo. A alegação é de que os livros de Rohden não são católicos – "apenas cristãos".

Em 1943 Huberto Rohden se demite do clero, entregando documento denominado "Carta Aberta", no qual expõe os motivos de abandonar suas funções de sacerdote. Tudo isso relata no livro "Por um Ideal" deixando transparecer muito sofrimento.

Compra, então, um sítio no Rio. É apenas um leigo, sem rancor com seus detratores. Casou-se com Anna Maria Gerda Magdalena Rosenthal, de nacionalidade alemã.

Seus contatos com Einstein, com o qual debate Filosofia em alemão, iniciam em 1945, quando está na Universidade de Princeton, em Nova Jérsei. É então convidado a trabalhar em Washington, na Americam University. Tornaram-se amigos e vizinhos. Viveu seis anos nos Estados Unidos proferindo palestras e fazendo conferências em igrejas, centros e sociedades religiosas.

Recebendo proposta para lecionar Filosofia na Universidade Manckenzie, de São Paulo, onde não chegou a tomar posse, retorna ao Brasil. Em São Paulo funda a Instituição. 

 Alvorada. 

Segundo o que consta no seu livro "O Cristo Cósmico e os Essênios" em 1953: "Renê – Paulo, seu único filho, é acometido de séria doença. A mulher e o filho voltam aos Estados Unidos da América do Norte, onde os recursos médicos são mais avançados". Rohden continua sua grande campanha de difusão da "Filosofia Univérsica e da Mensagem de Cristo".

Rohden esteve também na Palestina, Egito, Índia e Nepal.

Em 1968,a convite da Universidade Federal de Santa Cartina, Huberto Rohden proferiu palestras e conferências no Auditório do então Centro de Ciências Econômicas, por achar-se este localizado no Centro de Florianópolis.

Foi naquela ocasião que visitou pessoalmente a aluna de Filosofia, Vanilda Tenfen, sua sobrinha-neta, na residência desta, sita na rua Frei Hilário, n° 248, em Campinas, São José. Estava acompanhado do Filósofo Evaldo Pauli, Catedrático de Teoria do Conhecimento, professor de Vanilda. Ela hoje é ocupante da cadeira n° 11, da Academia de Letras de Palhoça, cujo Patrono é o próprio Huberto Rohden. Com mais de sessenta obras escritas, Rohden, filósofo brilhante, teve um ritmo intelectual dinâmico. Promoveu ainda retiros espirituais em todo o país.

Em 1975 Huberto Rohden fez desquite amigável com a ex-mulher que estava nos Estados Unidos acompanhada do filho, vítima de doença cerebral e que veio a falecer em 1977.

Sabemos que Rohden efetuou doação de todos os seus bens imóveis à Instituição Alvorada. No dia 9 de fevereiro de 1981, concedeu sua última entrevista pública à revista "Visão’, sob o título de A Educação da Consciência". No ano seguinte, com a saúde debilitada, é internado na Clínica Naturista Tobias, de São Paulo. Faleceu aos 87 anos de idade, em paz com o mundo e consigo. Suas últimas palavras foram: " Eu vim para servir á humanidade".

 NOTAS 

    • Foi considerado relevante anexar este perfil de Rohden ao "Centenário de Jacó Bruning" pelo fato de ser seu sobrinho e ter tido a honra de fazer parte-como nós a temos de uma família tão ilustre;

 A mãe de Jacó é irmã de Huberto Rohden;

  • No Campeche , Florianópolis há uma Rua com o nome de Huberto Rohden. 

    Livro escrito e editado em 1962 em pequenos capítulos. Ao final de cada título, um conjunto de perguntas e respostas. Foi didaticamente elaborado com o objetivo de orientar estudantes de Filosofia. As palavras Deus-Jesus-Senhor-aparecem mais de cem vezes.

    Agora, composto e impresso em 2005, com seu texto integral, pela Editora Martin Claret, "O Caminho da Felicidade" apresenta uma capa mais moderna, ilustrada por Marcellin Talbot, no entanto, sem as perguntas e respostas ao final dos capítulos.

    Ficamos a nos interrogar do porquê do título dado por Huberto Rohden para essa obra. Ora, Caminho sugere: sempre em movimento, para a frente. É algo a ser conquistado. Não está pronto ou acabado. Felicidade lembra: auto-realização, encontrada na "creatividade" (expressão própria de Rohden, lembrada no início de cada livro seu). Cada um de nós já sentiu esta felicidade que brota do íntimo. É uma satisfação pelo dever cumprido, pela "creação" de uma obra de arte... É fazer algo novo, bom, correto, com "justeza"! (outra expressão típica de Huberto Rohden).

    Felicidade é sempre um assunto apaixonante! Todos buscamos encontrá-la. Até as Escolas abordam, em seus currículos, o tópico felicidade para ser estudado pelos alunos. A Literatura, a Filosofia e as Religiões de uma maneira ou de outra, sempre falam nela. Já os antigos filósofos, como Sócrates, diziam que a felicidade deve ser buscada! A receita era uma vida de virtudes, sem vícios (e não apenas o prazer).

    No Cristianismo, durante muitos anos foi pregado que a felicidade viria só após a morte! Era o prêmio maior por uma vida virtuosa. O homem pecou no paraíso e precisa trabalhar e sofrer.

    No Renascimento admitia-se prazeres mundanos para ser feliz.

    Com o Iluminismo, a felicidade é um direito do ser humano! (não é mais conseqüência de méritos humanos).

    Psiquiatras e psicólogos tentam também explicar e auxiliar o ser humano na busca da felicidade ao longo da História. Para alguns, ela é efeito químico, para outros, resultados e experiências emocionais.

    As religiões a colocam como algo transcendental.

    Felicidade é tema polêmico, discurso existencial. Há sempre a pergunta: o que é felicidade? Um valor absoluto? Algo inatingível? Ou, apenas depende da subjetividade de cada um?

    Nos dias atuais, com a febre de consumismo e individualismo reinantes nas sociedades capitalistas, tudo ficou mais difícil e confuso: o pobre pode ser feliz? Podemos ser felizes em meio ao sofrimento?

    Huberto Rohden, em seu "Curso de Filosofia da Vida", no livro "O Caminho da Felicidade" nos auxilia com orientações seguras de um pesquisador, filósofo, humanista e místico. Daí o motivo da escolha desta sua obra para elaboração deste panegírico diante da Academia de Letras de Palhoça. 

    Poemas/Poesias 

    Os poemas de Huberto Rohden estão repletos de poesia. Rohden utiliza belas figuras de linguagem: "Luxúria Mental", "Castidade do Silêncio", "Prostituição dos Ruídos", "Pensamentos Vagabundos", "Santuários do Espírito".

    Com grande riqueza vocabular Huberto Rohden aborda temas variados: filosóficos, teológicos, ecológicos, mas, também telúricos e singelos – verdadeiramente poéticos.

    Há muita "creatividade". Há muita lógica e exatidão em todos os textos. Citamos alguns temas: "Eu sou" (filosófico); "Consagração Cósmica" (teológico); "Natureza Sofrida" e "Minha Pequenina Flor Empoeirada" (ecológico); "Consciência Mística" (filosófico-teológico); "Estou Sofrido em Ti, Senhor" (teológico).

     
     

    Prelúdio 

    Quando os sentidos falam a mente se cala.

    Quando a mente fala, a lama se cala.

    Somente em total silêncio verbal e mental pode a alma falar.

    E esse falar é profundo silêncio

    – como o nascer do sol,

    – como a luz das estrelas,

    – como o perfume das flores,

    – como o amor do espírito,

    – como os vastos desertos,

    – como o cume das montanhas.

    O colóquio da alma com Deus e o solilóquio da alma consigo mesma é a Voz do Silêncio.

    Esse silêncio é plenitude.

    Esse silêncio é presença;

    Esse silêncio é Verdade.

    A Verdade não pode ser pensada.

    A Verdade não pode ser falada.

    A Verdade só pode ser calada.

    Quando a Verdade invade o homem, torna-se ele silêncio dinâmico como a alma do Universo, cujo profundo Ser transborda em vasto Agir.

    E esse silencioso Ser, que parece ausência e vacuidade, é Infinita presença e transbordante plenitude.

    O homem que ouviu a Voz do Silêncio é tão feliz que nenhum ruído externo o pode tornar infeliz. Todas as circunstâncias são dominadas por sua substância.

    Os poemas deste livro devem ser saboreados em profundo silêncio e solidão, de alma para alma. Não nasceram da mente, e não devem ser mentalizados. Quem os vive e vivencia entra em solilóquios místicos com sua alma e em colóquios cósmicos com Deus. Envolverá num halo de poesia a sua vida e permeará do elixir da imortalidade sua alma.

     
     

    Eu Sou 

    Quanto mais o velho ego

    Se aproxima do nadir da sua vacuidade,

    Tanto mais veemente se torna o brado do meu novo Eu

    No zênite da sua plenitude...

    Enfastiado de tudo que tenho ou pareço ter,

    Sinto fome daquilo que realmente SOU...

    O abismo invoca as alturas...

    O Nada clama pelo Todo...

    O ínfimo Não preludia o supremo Sim...

    O Sansara falaz é eclipsado pelo Nirvana veraz...

    Os ruídos estéreis desmaiam, ante o Silêncio fecundo...

    EU SOU... Eu e o Pai somos um...

    E essa divina consciência EU SOU

    Me faz poderosamente vazio,

    Silenciosamente puro,

    Inefavelmente feliz...

    EU SOU... EU SOU... EU SOU...

    Todas as minhas impuras análises de ontem

    Expiraram na pura intuição de hoje...

    Nada mais sinto...

    Nada mais desejo...

    Nada mais penso...

    Nada mais quero,

    Simplesmente SOU...

    EU Sou a vida imensa de Deus...

    EU SOU a luz cósmica do Espírito...

    EU Sou o Amor Universal...

    EU SOU a beatitude infinita...

    E, algum dia, essa divina Essência

    Permeará todas as minhas humanas Existências...

    Agirei externamente de acordo

    Com o que sou internamente...

    O clamor da minha vacuidade

    De hoje

    Preludia o silêncio da minha plenitude

    De amanhã...

    Consciência Mística – Vivência Ética

     Naquele tempo, conhecia eu apenas

    O meu efêmero ego,

    Tão sedento de existência.

    E, quanto mais me fugia de sob os pés

    Essa fugaz existência,

    Quanto mais me distanciava do nascer

    E me aproximava do morrer,

    Mais freneticamente me apegava ao viver,

    Ansioso pra gozar esse lampejo de luz

    Do existir de hoje

    Intercalado entre as imensas trevas

    Do não-existir de ontem

    E do não-existir de amanhã.

    Hoje sei que o meu ego

    É apenas um invólucro do meu Eu,

    E que esse Eu se projeta para além

    Do nascer, do viver,

    E do morrer...

    Porque o meu Eu é a VIVÊNCIA ETERNA

    Inatingida pela fugacidade

    Do nascer e do morrer.

    Sei que a minha existência de hoje

    Não é princípio,

    Nem é um fim,

    Mas apenas uma continuação,

    Um ligeiro parêntese de existir

    Na eternidade do Ser...

    E deste meu íntimo saber

    Me nasce uma segurança e serenidade,

    Uma paz e felicidade sem nome...

    E – coisa surpreendente! –

    À luz desta minha certeza,

    Se ilumina todo esse mundo em derredor...

    Essa minha VIVÊNCIA de dentro

    Tornou a minha vida de fora

    Não apenas tolerável,

    Mas até bela e querida.

    Despertou em mim uma vontade imensa

    De ser bom

    E de fazer o bem...

    A consciência

    Do meu Ser

    Transborda na vivência

    Do meu Agir.

    A mística divina

    Desabrochou

    Em ética humana.

    Aleluia!

    O Cântico que não Cantei 

    Quisera cantar-te um cântico, meu

    Eterno Anônimo,

    Terrífico e suave como a noite estrelada –

    Um cântico que te revelasse

    Toda a plenitude do meu silêncio,

    Desse silêncio, sempre em gestação

    De algo que não nasce...

    Quisera cantar-te um hino que te dissesse

    Tudo que sei e tudo que sou,

    Tudo que sou em ti,

    Tudo que tu és em mim...

    Mas, quando iniciei o meu cântico,

    A ti, meu eterno Anônimo,

    Morreu-me nos lábios o primeiro hálito

    Da audaciosa aventura...

    Profanidade e profanação seria

    Toda palavra que eu te dissesse...

    Por isto, convidei o mais profundo abismo do seu Ser

    Para cantar-te a sacra liturgia do meu silêncio,

    Meu eterno Anônimo...

    Terrífico e suave como a noite estrelada...

    Assim, se não digo o que tu és.

    Não digo ao menos o que não és...

    Ouve, pois, a sacralidade do meu silêncio,

    Que nasceu no coração tropical do Saara

    E habita nos glaciares do Himalaia...

    Não, não quero falar de ti,

    Quero calar diante de ti...

    Falar é profano,

    Calar é sagrado.

    Falar é uma tentativa estéril de eu me aproximar de ti,

    Calar é uma realidade fecunda de tu te aproximares de mim...

    O meu falar te afugenta de mim,

    O meu calar te atrai a mim...

    Há tempo que fiz esta grande descoberta:

    Que a faminta vacuidade do meu silêncio

    Atrai a plenitude do teu Verbo...

    E o teu Verbo se faz carne em mim,

    Cheio de graça e de verdade...

    Na meia-noite do meu silêncio

    Nasce o teu Verbo em mim

    Assim como a luz incolor é a plenitude das cores,

    Assim é o meu silêncio a plenitude do teu Verbo.

    Quando o meu silêncio desce ao nadir da sua impotência,

    Então o teu Verbo ascende ao zênite da sua potência...

    E das trevas do meu abismo

    Contemplo os astros do teu céu...

    Meu eterno Anônimo.

    Terrífico e suave como a noite estrelada...

    Ouve o cântico que não te cantei,

    O cântico do meu silêncio,

    Em arroubos de amor

    E de adoração...

    Mística Transbordante em Ética

    Mestres do espírito, bem intencionados,

    Disseram-me que eu devia procurar a

    Verdade,

    Incessantemente.

    E eu me lancei à busca da Verdade,

    Anos sem conta,

    Por todas as latitudes e longitudes

    Do Universo de dentro e de fora...

    E, quanto mais perseguia a Verdade,

    Tanto mais a Verdade fugia de mim,

    Qual borboleta fugaz,

    A voejar de flor em flor,

    Sempre distante e evasiva...

    Porque a Verdade é tão delicada e etérea,

    Tão pura e virginal,

    Que teme o mais ligeiro contato

    Com as irreverentes profanidades

    Do intelecto sagaz...

    Nessas irreverentes caçadas da Inteligência

    Cacei muitas verdades,

    Multiformes e multicores,

    Mas não vi a Verdade,

    Sem forma nem cor,

    Sem nome nem aspecto definível.

    Também, como poderia o Sol da Verdade

    Refletir-se tranqüilamente

    No lago irrequieto e turvo

    Do meu agitado ego mental?

    Como poderiam o azul do céu

    E a quietude das estrelas noturnas

    Sorrir beatificamente

    Na minha babilônia mental,

    Cheia de ruídos e abominações?...

    Até que, finalmente, me convenci

    De que não devo procurar a Verdade –

    Mas que a Verdade me procurará,

    Se eu desistir do meu ruidoso Agir

    E repousar no meu silencioso Ser,

    Esse grande Ser, eterno, divino,

    Que é bom e puro,

    Sereno e plácido,

    Como os céus e os desertos,

    Como as montanhas e os lagos...

    Outrora, receava eu que esse singelo Ser

    Matasse o meu complicado Agir

    E me reduzisse a uma inerte

    E monótona passividade

    Hoje sei que nada existe mais dinâmico

    Do que esse límpido Ser...

    Sei que a plenitude do Ser

    Transborda irresistivelmente

    Na amplitude do Agir.

    Sei que ser-bom é o único modo seguro

    Para fazer-bem.

    Sei que o fazer-bem em si mesmo

    É ruidosa vacuidade,

    Deslumbrante esterilidade...

    Sei que ser-bom é silenciosa plenitude,

    Inexaurível fecundidade...

    Que gera numerosa prole de atividade benéfica,

    No vasto cenário do Agir.

    Sei que tudo pode o mundo esperar

    Dum homem que nada espera do mundo...

    Sei que ninguém pode ser solidário com os homens,

    Sem se perder,

    Se não for solitário em Deus

    No seu íntimo Ser...

    Sei que os frutos humanos de fazer-bem

    Nascem do tronco divino de ser-bom...

    Sei que toda a consciência mística

    Transborda em vivência ética,

    Sei que da paternidade única de Deus

    Nasce a fraternidade universal dos homens.

    Vivo em Todos os Seres

     Desde que te encontrei em mim, Senhor

    Desde que me encontrei em ti,

    Encontro-me em todas as creaturas,

    Que em ti estão

    E nas quais estás...

    Encontro-me em pedras e metais,

    Em plantas e insetos,

    Em animais e aves.

    Encontro-me no fulgor do relâmpago

    E nas fosforescências do pirilampo.

    Encontro-me no bramir da procela,

    E no silêncio das noites estreladas.

    Encontro-me em alvejantes berços sorridentes de vida,

    E em negros ataúdes marejados de lágrimas...

    Desde esse dia ditoso

    Do meu encontro em ti,

    Do teu encontro em mim,

    Eu sinto em mim o latejar da vida universal,

    Que palpita em todas as creaturas...

    E é por isto que eu gozo com todos os gozadores,

    E sofro com todos os sofredores...

    Gozo e sofro em mim

    A alma de todos os seres.

    Outrora, quando eu conhecia apenas

    O meu pequeno ego separado,

    Gozava e sofria apenas as alegrias e dores

    Do meu ego personal.

    Mas, desde que descobri o meu grande Eu indiviso,

    Expandiu-se o meu ser,

    Até os confins do universo,

    Alargou-se a minha consciência

    Por todas as latitudes e longitudes,

    Por todas as altitudes e profundidades

    Do teu cosmos...

    Transbordou a minha vida,

    Em exuberante plenitude,

    E entrou em contato com todas as vidas

    Do mundo de Deus,

    Centelhas do Deus do mundo...

    É tão estranha essa solidariedade cósmica,

    Que eu sinto em mim,

    Essa vivência universal,

    Que vive em mim,

    Essa profunda imanência de todos os objetos,

    Dentro do meu sujeito,

    Que eu pareço ser os objetos,

    E os objetos parecem ser eu.

    E, ao latejar dessa afinidade universal,

    Trava-se entre nós,

    Entre o sujeito e os objetos,

    Silencioso diálogo

    De íntima compreensão

    O parentesco da grande família de Deus,

    O pulsar do mesmo sangue divino

    Através de todas as artérias da creação...

    E, de mãos dadas

    E almas sintonizadas,

    Cantamos a nosso Deus

    O aleluia da nossa alegria,

    O hosana da nossa felicidade...

    Estou Sofrido em Ti, Senhor 

    Ouve, Senhor, o meu clamor!

    Estou enfastiado de mim...

    Estou faminto de ti...

    Não me tolero mais...

    Tira-me dos meus olhos, Senhor!

    Não me quero ver mais!...

    Só quero ver-te a ti, invisível Mistério...

    Estou sofrido de ti...

    Todo o meu ser é uma chaga viva a sangrar por ti...

    Agonizante de inefável tortura...

    Expirou a noite da minha gozosa infelicidade de outrora...

    Amanheceu a alvorada da minha dolorosa felicidade...

    Quando culminará o sol da minha exultante beatitude?

    Estou sofrido e chagado por ti,

    Minha luminosa Escuridão...

    Minha Esfinge anônima...

    Minha doce Amargura...

    Meu delicioso Tormento...

    Clamo por ti, em todas as veredas da minha existência,

    Porque te entrevejo dolorosamente e não te possuo ainda jubilosamente...

    Todas as tuas obras te revelam– e todas as tua obras te velam...

    Entre o finito que eu sou e o Infinito que tu és medeia uma distância infinita.

    E essa distância é a bitola do meu delicioso sofrimento por ti...

    É o meu céu infernal...

    É o meu inferno celestial...

    Quanto mais te sofro mais te amo...

    Quanto mais te amo mais te sofro...

    Não quero amar-te sem sofrer-te...

    O meu a mor não seria plenamente meu

    Se não fosse sofrido por ti...

    Continua, pois, divina Esfinge, a ser o meu amor doloroso...

    A minha luminosa Escuridão.

    O meu deserto sonoro...

    Minha Alvorada de luz...

    Meu Ocaso de trevas...

    Meu querido Inimigo...

    Meu Amigo adverso...

    Minha Luz...

    Minha Vida...

    Minha Beatitude...

    Meu Tudo...

    Amém...

    Vem, Esquecimento Querido! 

    Quando estou num lugar onde ninguém me conhece,

    E onde não conheço ninguém,

    Sinto-me feliz...

    Parece que nasci, nesse momento,

    Que saí das mãos de Deus como um raio solar,

    Puro, bom, imaculado...

    Não conheço ninguém, e ninguém me conhece,

    Nesse delicioso deserto...

    Ninguém me chama pelo nome...

    Nenhum jornal me profana em letra de forma...

    Nenhuma tribuna vocifera de mim louvores nem vitupérios...

    Ninguém me ama, ninguém me odeia...

    Ninguém me conhece...

    Que fascinante alvorada do meu ser!

    Que madrugada virgem do meu existir!

    Aljofrada ainda do orvalho do Gênesis...

    Tudo ao redor de mim é solidão e silêncio...

    Benéfico anonimato...

    Inebriante esquecimento universal...

    Nirvana amorfo e incolor...

    Ninguém me louva, ninguém me censura,

    Todos me ignoram.

    Eu ignoro a todos...

    Todos os sansaras de Maya

    Se afogaram no Nirvana de Brahman...

    Desnasci de todos os meus nascimentos,

    Renasci para o ouro de lei do novo Eu...

    Aleluia!...

    Hosana!...

    Aum!...

    Minha Pequenina Flor Empoeirada 

    Como estás empoeirada,

    Pequenina flor à beira da estrada!

    Quase nada mais se vê do delicado azul

    Das tuas pétalas, pequenina miosótis.

    E, no entanto, continuas a florescer,

    Tranqüila, serena,

    Como se anda acontecera...

    E, dia a dia, desatas novos botõezinhos –

    Para serem novamente empoeirados

    Pela profana brutalidade dos veículos humanos...

    E a florzinha me olhava com seus olhos azuis,

    E seu silêncio me falava

    Com delicada reticência...

    Compreendi a sabedoria do seu olhar.

    Saboreei a filosofia do seu silêncio.

    "Eu não floresço para ser vista por alguém,

    Nem sou bela para ser aplaudida pelos transeuntes.

    Floresço e sou bela porque esta é a minha missão,

    O meu divino privilégio,

    A minha inefável beatitude.

    Não me movem motivos de fora,

    Só me impele a natureza de dentro.

    Entre aplausos ou entre apupos,

    Com vivas ou com vaias –

    Eu sou sempre a feliz miosótis!

    Azul como uma nesga do céu

    Arauta da Beleza infinita,

    Representante do Deus do mundo

    No mundo de Deus!

    Aleluia!"...

    Não Sou Mestre de Ninguém 

    Não sou mestre de ninguém.

    Ninguém é discípulo meu.

    Sou como a flecha na encruzilhada,

    Cuja missão é apontar o caminho certo –

    E depois ser abandonada...

    Se o viandante não ultrapassar a seta,

    Não cumpre o desejo da mesma.

    Ai de mim se eu não for abandonado!

    Se o viandante parar diante de mim,

    Contemplando a minha forma e cores,

    Se, em vez de demandar

    A invisível longinqüidade

    Se enamorar da minha visível propinqüidade,

    Não compreender a minha mensagem,

    Que aponta para além de mim,

    Rumo ao Infinito...

    Ai de mim, se eu for espelho,

    Perante o qual os homens parem

    Para se contemplarem a si mesmos,

    Em mortífero narcisismo!

    Feliz de mim, se eu for janela aberta,

    Que permita visão de horizontes longínquos,

    Passagem franca para o Infinito!

    Não sou mestre de ninguém,

    Ninguém é discípulo meu!

    Indico a todos o Mestre invisível,

    Que habita na lama de cada um

    E para além de todos os mundos.

    Sinto-me feliz, quando o viajor,

    Orientado pela legenda da minha seta,

    Me abandona e vai em demanda

    Da indigitada meta

    Em espontânea liberdade

    Rumo à longínqua felicidade...

    Quando Eu sabia Demais... 

    Quando eu nada ou pouco sabia do mundo

    Do espírito,

    Trabalhava intensamente.

    Minha vida era uma vida militante,

    Dinamicamente realizadora,

    Graças à minha feliz ignorância.

    Depois, quando cheguei a saber da verdade,

    Quando soube que todas as coisas do mundo são apenas

    Miragens no deserto,

    Espelhos e enigmas,

    Sonhos e sombras,

    Ecos e reflexos irreais

    Da ignota Realidade –

    Desisti das minhas atividades,

    Cruzei os braços

    E fiz-me passivo espectador

    Do teu grandioso drama cósmico,

    Senhor do Universo...

    Sentia-me qual pequenina formiga

    No teu gigantesco Himalaia...

    Que diferença havia entre agir e não-agir?

    Entre atividade e passividade?

    Poderia, acaso, esta vil formiguinha

    Modificar os teus imensos Himalaias?...

    Para que trabalhar e lutar,

    Se tudo corre segundo os teus eternos decretos?

    Se leis imutáveis regem os teus mundos?...

    Desde então, preferi ser passageiro inerte

    Da tua máquina cósmica

    Em vez de ser motorista ativo dessa máquina.

    Desde então, desisti da minha velha mania

    De querer converter alguém...

    Converter, por que e para quê?

    Se, no fim, todo homem tem de seguir o caminho que segue?

    Desisti também de querer aliviar os sofrimentos

    Dos sofredores.

    Aliviar, por que e para quê?

    Se cada devedor tem de saldar o débito do seu karma?

    Que insensatez seria se eu impedisse o devedor

    De solver o seu débito!

    Não será melhor que cada um pague, deve, à eterna Justiça,

    O que deve?

    Que fique quite com a Constituição Cósmica,

    Do que protelar essa quitação

    Para tempos vindouros?

    Deveras! Eu sabia demais...

    E esse "saber demais" me impedia de agir.

    Só age quem sabe pouco,

    Quem sabe muito deixa de agir...

    Agir é sinal de ignorância

    E estreita ingenuidade...

    Assim pensava eu...

    Assim vivia eu...

    Só mais tarde, muito mais tarde,

    Descobri – que sabia de menos...

    E por isto o meu saber me impedia de agir.

    Numa estranha incubação espiritual,

    De muitos dias e de muitas noites,

    Finalmente, amadureceu em mim a suprema Verdade.

    Isolei-me diuturnamente,

    Do ambiente físico

    E do ambiente mental...

    Desterrei de mim pessoas e coisas,

    Bani do meu cérebro profanado

    Pensamentos, memórias, fantasias,

    Converti em silencioso santuário do Infinito

    A ruidosa praça pública do meu cérebro,

    E dentro deste grande silêncio da matéria e da mente

    Focalizei intensamente o meu divino Eu...

    Tão grande foi o calor dessa focalização

    Que se derreteram em mim todas as matérias-primas...

    E, quando tudo estava liquefeito –

    O meu barulhento agir

    E o meu tácito pensar,

    O meu ativo dinamismo ocidental

    E o meu passivo misticismo oriental –

    Então, todos os elementos,

    Em liquefeita ignição,

    Se fundiram numa nova unidade,

    Que não era do Aquém nem do Além

    Não era mera justaposição,

    Mas era algo novo,

    Inédito e inaudito,

    Uma unidade orgânica,

    Virgem, como a alvorada cósmica de um novo mundo,

    Ainda aljofrado do orvalho noturno

    De um divino "Fiat" creador...

    E dessa fusão do meu velho materialismo dinâmico

    E do meu novo espiritualismo místico,

    Nasceu a estupenda maravilha

    Do homem integral,

    Da nova creatura em Cristo...

    Da fusão da minha horizontal ativa

    E da minha vertical passiva,

    Surgiu o emblema da universalidade,

    O símbolo da redenção...

    E eu me senti remido

    Do meu esfalfante dinamismo,

    E do meu inoperante misticismo.

    Entrei na atmosfera de um mundo ignoto,

    Na zona do dinamismo passivo,

    Da passividade dinâmica...

    A minha nova mística sacralizou a minha velha dinâmica,

    E a minha dinâmica vigorizou a minha nova mística...

    Hoje sou mais dinâmico do que nunca,

    Mas o meu agir é diferente daquele,

    Não é ruidoso como o martelar de uma fábrica

    Dominada por fumegantes chaminés –

    Mas é silencioso como a luz solar,

    Como o agir do gigantesco astro,

    Assaz, poderoso para lançar pelo espaço

    Estupendos sistemas planetários,

    E assaz carinhoso para beijar as pétalas duma flor

    Sem as lesar...

    O meu agir é misticamente dinâmico,

    E dinamicamente místico.

    Um agir pelo não-agir

    Um Agir pelo Ser

    Brota duma dimensão ignota –

    Da zero-dimensão do Infinito –

    Anteontem, a ignorância me fizera ativo,

    Ontem, a mística me fizera passivo –

    Hoje, a experiência cósmica me faz

    Ativamente passivo,

    E passivamente ativo...

    Ditos Indizíveis 

    Quando o portal do Infinito se abriu aos olhos de minha alma,

    Algo me foi dito em profundo silêncio,

    Algo que no ruído não se pode redizer.

    Vivi e saboreei dentro de mim esse dito indizível,

    Assim como se vive e saboreia o amor,

    O êxtase do espírito,

    O banquete nupcial da alma.

    Desde esse dia, tenho procurado dizer o indizível que me foi dito,

    Dizê-lo , não aos outros, mas a mim mesmo.

    Tenho procurado analisar a minha experiência com o Infinito,

    Inteligir com a mente o que minha alma intuiu –

    Tão irreverente é o Intelecto profano!

    Tenho procurado correr o véu de Ísis,

    E devassar o interior do santuário –

    Tamanha é a audácia do meu Lúcifer!...

    Que seria de ti meu querido dito indizível,

    Meu mistério anônimo,

    Minha fascinante esfinge,

    Se a profana brutalidade do meu Intelecto

    Te devassasse analiticamente?

    Se te anatomizasse em seu laboratório mental,

    Vivisseccionado cuidadosamente,

    Espetando-te no estilete de um silogismo

    Cientificamente correto?...

    Se dizível fosses, meu dito indizível,

    Estarias adulterado no teu íntimo ser,

    Impuramente estuprada,,

    Minha virgem puríssima...

    Não! Eu teu quero assim mesmo como és,

    Meu sacro mistério,

    Minha indevassável escuridão,

    Meu silêncio anônimo,

    Minha noite estrelada...

    Não me interessa o que sei – fascina-me o que ignoro.

    Estéril é tudo que analisei com a mente,

    Fecundo é tudo que adivinho com a alma.

    É do seio fecundo do mistério que brotam todas as coisas boas e belas.

    Não! Não quero entender – quero andar!

    Não quero conhecer – quero adorar!

    Quero lançar-me, de olhos fechados,

    Às ondas bravias de ignoto oceano do Infinito!

    Quero naufragar em suas profundezas,

    Quero afogar-me nos seus abismos,

    Quero beber a sua vasta escuridão,

    Quero inebriar-me do seu eterno silêncio,

    Com inefável beatitude...

    Enfastiado de tudo que sei, tenho fome do que ignoro...

    Nem quero saciar essa fome dulcíssima,

    Quero para sempre sofrer esse gozo celeste,

    Quero para sempre gozar esse tormento divino...

    Quero par sempre andar nessa noite pressaga,

    Na propinqüidade das trevas que me cercam,

    Na longinqüidade das luzes que me acenam...

    Não! Não quero vida diurna sem enigmas,

    Quero esta vida noturna prenhe de mistérios.

    Não me fascina a claridade solar das coisas entendidas e analisadas,

    Empolga-me a noite estrelada do incompreensível,

    Envolta em eloqüentes reticências...

    Mistério é Deus,

    Mistério é minha alma –

    Encontrou-se o mistério do aquém

    Com o mistério do além,

    Na luminosa escuridão

    Do meu dito indizível...

    Luxúria Mental 

    Há tempo que abandonei a minha velha luxúria verbal.

    Hoje, vivo mais na castidade do silêncio

    Do que na prostituição dos ruídos

    Entretanto, mil vezes mais difícil

    Do que renunciar à profanidade verbal

    Me foi superar a luxúria mental.

    Ainda por largo tempo,

    Após a renúncia à incontinência das palavras

    Continuou o meu cérebro praça pública

    Profanada pelo tropel indisciplinado

    De pensamentos rebeldes e vagabundos...

    Pensamentos que iam e vinham,

    Desordenadamente,

    Sem licença nem seleção...

    Era tão jucundo pensar à toa,

    Divagar e devanear,

    Espojar-se nas areias fofas dessa indisciplina mental...

    E, quando a minha alma acordou

    E resolveu fazer dessa praça profana

    Um santuário do espírito –

    Foi violenta a rebeldia do meu lúcifer...

    Ele, que, por tanto tempo,

    Fora senhor e soberano da minha vida,

    Abdicar do seu governo?...

    Ceder o cetro ao meu Eu divino?...

    Quem era esse Eu?

    Esse ignoto Alguém que se arvorava em soberano?

    E a minha luxúria mental continuou por largo tempo...

    Continuei a banhar-me voluptuosamente

    Nas tépidas carícias do pensamento...

    Assistindo, cheio de prazer,

    A essa deslumbrante sucessão

    De fogos de artifício,

    A esse estonteante doidejar

    Dos vagalumes cerebrais,

    Em plena noite tropical...

    Era tão inebriante esse devaneio

    Das fantásticas bolhas multicores,

    A bailarem no espaço vazio do meu interior...

    Que seria de mim se eu sustasse

    Essa torrente mental?...

    Não era eu mesmo essa cachoeira de pensamentos?...

    Se ela parasse, onde estaria eu?

    Que sobraria de mim?...

    Não me sumiria nas fauces do nada?

    Não cometeria abominável suicídio?...

    Assim falava a minha mente,

    Que sempre mente

    Tão sagazmente...

    Que desnorteia a verdade

    E impinge as suas inconsistentes miragens

    Pela sólida Realidade

    Eu, porém, sentia dentro de mim,

    Dentro do meu centro divino,

    Um anseio imenso de verdade e segurança.

    Nauseado do sacrilégio da minha luxúria mental,

    Suspirava pela sacralidade da virgindade espiritual...

    Vislumbrava ao longe, muito ao longe,

    Para alem dos áridos desertos da mente humana,

    Os altos Himalaias do espírito divino.

    E aos poucos, muito aos poucos,

    Re-virginei a minha alma

    Prostituída pela indisciplina mental.

    Impus silêncio ao meu ruidoso pensar,

    Fiz calar o meu inteligir,

    Sustei o barulhento caos

    Das minhas arrogantes análises,

    A insolência dos meus silogismos,

    A impertinência das minhas deduções,

    A complacente mesquinhez das minhas acrobacias cerebrais.

    E fez-se uma grande silêncio dentro de mim...

    Tão vasto e profundo era esse silêncio

    Que nele percebi a voz de Deus

    A falar-me,

    Assim como o grande silêncio fala ao pequeno silêncio...

    E minha alma silente compreendeu

    Essa voz do silêncio......

    E agora me sinto puro,

    Silenciosamente puro,

    Agora me sinto vazio,

    Poderosamente vazio,

    Porque o ocaso da minha profanidade mental

    Expirou na alvorada da minha sacralidade espiritual...

    Natureza Querida! 

    Quantas vezes, naquele tempo, tentei penetrar

    Nos teus segredos íntimos,

    Ó misteriosa Natureza!...

    E não o consegui...

    Iludia-me com suaves fantasias,

    Cantava saudosos madrigais às tuas belezas

    De esfinge e de virgem –

    Mas não havia contato entre minha alma consciente

    E teu sono subconsciente...

    E eu ignorava o porquê dessa distância,

    Dessa frialdade,

    Desse obscuro anonimato,

    Que me mantinha tão longe de ti,

    Ó enigmática Natureza!...

    Eu te namorava com ardor –

    Mas tu eras uma estranha para mim,

    Na tua longínqua frieza lunar,

    Na tua gélida indiferença...

    Estranha me eras, porque estranho me era Deus,

    Meu Deus e teu Deus – nosso Deus...

    Não sabia eu, nesse tempo,

    Ó Natura silente,

    Que ninguém pode penetrar no teu santuário

    Senão via Deus...

    Hoje sei que não há acesso direto à tua alma,

    Mas somente acesso indireto,

    Via Deus...

    Ninguém te pode compreender e amar sem perigo,

    A não ser que compreenda e ame o teu Creador...

    Tu és hostil a todo homem que é hostil a Deus.

    Só esse homem pode lançar-se a teus braços, indene,

    Ó formosa Circe e suavíssima Beatriz!...

    Nenhum perito de panteística despersonalização ameaça

    Aos teus amantes que amam a Deus...

    Ó natureza querida!

    Consagração Cósmica 

    Deus, Uno em tua Infinita Essência!

    Deus, Diverso em tuas Existências Finitas!

    Deus Uni-Verso!...

    Eu me consagro a ti pela experiência mística,

    Eu me consagro aos teus pela vivência ética.

    Solitário em ti, o Uno e Único,

    Solidário com os teus, diversos e múltiplos...

    A ti e aos teus me consagro

    Com toda a minha alma,

    Com todo o meu coração,

    Com toda a minha mente,

    Com todas as minhas forças...

    Eu te amo e adora em ti,

    Eu te sirvo nos teus.

    Com jubilosa espontaneidade,

    Com exultante entusiasmo,

    Com exuberante alegria...

    Ó Deus Uno em tua Essência,

    E diverso em tuas Existências –

    Ó Deus-Universo!

    Concede-me que eu seja

    Tão unitário no meu Ser

    E tão diversitário no meu Agir

    Como tu,

    O eterno Imóvel

    Que tudo move!...

    Sê o meu Centro Único

    Nas periferias múltiplas!...

    Que minha vida seja uma epifania

    De Unidade na Diversidade,

    Uma epopéia cósmica

    De Verdade e de Beleza,

    Como tu em mim,

    Como eu em ti....

    Rohden na Internet 

    Muitas informações também pululam na Internet, com diversas comunidades de adeptos, sendo as principais:

     Orkut 

    • Huberto Rohden (metafísico)

    958 membros 

    • Huberto Rohden

    dono: Fábio Rodrigues

    800 membros 

    • Huberto Rohden (família Rohden)

    dono: Marcus Rohden

    192 membros 

    Sites:

    Google

    www.submarino.com.br

    www.imagic.org.br

    www.planetanews.com (para compras)

    www.americanas.com.br

    Cadê / Yahoo

    www.geocities.com /memoriarohden

    www.ahau.org. (Instituto Ahaw)

    www.dcc.ufla.br (crítica a HR) (item "O Caminho da Felicidade"!)

    www.rodocast.br (podcast) = rádio virtual dedicada a divulgação da obra de HR

    MSN

    www.cuidadoser.com.br

    Relação de Obras do Prof. Huberto Rohden

    Coleção Filosofia UniversalO Pensamento Filosófico da Antigüidade

    A Filosofia Contemporânea

    O Espírito da Filosofia Oriental. 

    Coleção Filosofia do Evangelho 

    Filosofia Cósmica do Evangelho

    O Sermão da Montanha

    Assim Dizia o Mestre

    O Triunfo da Vida sobre a Morte

    O Nosso Mestre 

    Coleção Filosofia da Vida 

    De Alma para Alma

    Ídolos ou Ideal?

    Escalando o Himalaia

    O Caminho da Felicidade

    Deus

    Em Espírito e Verdade

    Em Comunhão com Deus

    Cosmorama

    Porque Sofremos

    Lúcifer e Logos

    A Grande Libertação

    Bhagavad Gita (tradução)

    Setas para o Infinito

    Entre Dois Mundos

    Minhas Vivências na Palestina, Egito e Índia

    Filosofia da Arte

    A Arte de Curar pelo Espírito (tradução)

    Orientando

    "Que vos Parece do Cristo?"

    Educação o Homem Integral

    Dias de Grande Paz (tradução)

    O Drama Milenar do Cristo e do Anticristo

    Luzes e Sombras da Alvorada

    Roteiro Cósmico

    A Metafísica do Cristianismo

    A Voz do Silêncio

    Tão Te King de Lao-Tsé (tradução)

    Sabedoria das Parábolas

    O 5º Evangelho Segundo Tomé (tradução)

    A Nova Humanidade

    A Mensagem Viva do Cristo (Os 4 Evangelhos) (tradução)

    Rumo à Consciência Cósmica

    O Homem

    Estratégias de Lúcifer

    O Homem e o Universo

    Imperativos da Vida

    Profanos e Iniciados

    Novo Testamento

    Lampejos Evangélicos

    O Cristo Cósmico e os Essênios 

    Coleção Mistérios da Natureza 

    Maravilhas do Universo

    Alegorias

    Ísis

    Por Mundos Ignotos 

    Coleção Biografias 

    Paulo de Tarso

    Agostinho

    Por Um Ideal – 2 vols. Autobiografia

    Mahatma Gandhi – Ilustrado

    Jesus Nazareno – 2 vols.

    Einstein – O Enigma da Matemática – Ilustrado

    Pascal – Ilustrado

    Myrian 

    Coleção Opúsculos 

    Saúde e Felicidade pela Cosmo-Meditação

    Catecismo da Filosofia

    Assim Dizia Mahatma Gandhi (100 pensamentos)

    Aconteceu entre 2000 e 3000

    Ciência, Milagre e Oração são compatíveis? 

    Conclusão

    Escolhemos o livro "O Caminho da Felicidade" e selecionamos 15 poemas da obra "A Voz do Silêncio", de Huberto Rohden, para exemplificar o que pretendemos expor no início do presente trabalho de apresentação do Patrono da cadeira nº 11 da Academia de Letras de Palhoça. A referida cadeira é ocupada no momento pela acadêmica Vanilda Tenfen Medeiros Vieira, formada em Filosofia pela UFSC e também em Artes, pela UDESC.


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