Panegírico

Panegírico em louvor a Gercino José dos Santos - 20/12/1917 - 1º/11/2044

Por: Orlando Ferreira de Souza

Apresentado no dia 26 de março de 2024, às 19h30min, no Centro Cultural Laudelino Weiss, Centro-Palhoça-SC.

 

Exma. Sra. Neusa Bernado Coelho

Presidente da Academia de Letras de Palhoça,

Confrades e Confreiras,

Senhoras e senhores,

Boa Noite!

Sou Orlando Ferreira, sou poeta, escritor e historiador. E venho aqui apresentar o Panegírico em louvor a Gercino José dos Santos, este Ilustre cidadão Palhocense, que marcou uma época em nossa cidade. Gostaria também de agradecer a seus familiares pela presença.

Ele é Patrono da Cadeira N P 28 desta Academia.

Gercino José dos Santos era Descendente de açorianos, nascido em 20 de dezembro de 1917 no Alto Passa Vinte, hoje, São Sebastião. Casou em Santo Amaro da Imperatriz no dia 19 novembro de 1946 com Joana Felicidade de Espíndola. Filho de comerciantes da região, desde a infância teve uma vida difícil: .com a idade de 8 anos comprei meu primeiro par de sapatos" e "andava duas horas por dia a pé para estudar", relatava. Com toda dificuldade de uma cidade pequena e com poucos recursos, mesmo assim, o Sr. Gercino conseguiu terminar o curso primário. Começou a trabalhar cedo vendendo doces em festas e bailes, trabalhou muitos anos na lavoura e depois como comerciante. Ele era desenhista, projetava plantas das casas para quem o procurava, pintor de telas e homeopata. Em 1937, começou a tratar doentes com homeopatia, baseado no livro "Tratado de Homeoptia do Dr Cairo". Dedicou-se a manipular homeopatia para pessoas da comunidade que o procuravam. Também administrou medicamentos injetáveis durante vinte anos, só findou a atividade quando surgiu uma farmácia no bairro, a Farmácia Indiana do seu Chico.

No seu livro "Retalhos do Passado" — depoimento de um palhocense, Gercino José dos Santos nos conta com simplicidade, a vida de uma Palhoça que não existe mais. O começo de um povoado quando aqui chegaram os primeiros açorianos por volta de 1748, abrindo picadas no mato e litoral. Relata os modos e culturas da vida local. Conta das dificuldades destes primeiros habitantes/exploradores, seus atritos com os índios carijós, mas nem por isso Gercino José dos Santos deixa de demonstrar sensibilidade e poesia ao narrar: "esses destemidos Carijós que lutaram bravamente e muitos deram a vida pela conservação da posse de sua amada Meiembipe... um minuto de silêncio" Hoje esses mesmos índios, resumidos em poucas aldeias, tentando sobreviver ao contexto social, ao capitalismo globalizado, o desrespeito e às doenças do homem branco. Fala também como eram tratados os escravos na época em Palhoça " Trabalhavam desde a madrugada até a noite e na época da safra até a meia noite". Nesse sentido, Sr. Gercino nos faz refletir sobre um passado triste e vergonhoso deste país, a contribuição do negro na história econômica desta cidade e deste país. Contribuindo em todos os ciclos econômicos: cana de açúcar, café e ouro, e principalmente e não menos importante, na miscigenação das raças e na complexa formação cultural.

O livro "Retalhos do Passado" nos traz os costumes, o dia a dia, a história de nossa cidade e com muita sabedoria e saudade, nos fala do amor, da família e das conversas com os amigos numa cidade pequena chamada Palhoça.

O dom artístico de Gercino José dos Santos, não parava nos desenhos de plantas de casas que fazia para os amigos, pois na época não existia engenheiros nesta cidade. Esse dom artístico o acompanhou na música, e também nas artes plásticas, instigou a criatividade em seis telas gigantescas à tinta óleo onde retratou a natureza e os animais. Na literatura marcou história com o livro Passado - Depoimento de um Palhocense". Sua obra relata os costumes dos antepassados açorianos e seus descendentes. Recorda fatos ocorridos na vida do autor, bem como a dos primeiros imigrantes alemães e italianos que se estabeleceram em Palhoça. Gercino foi um grande líder comunitário, e sua a fé e religiosidade nortearam os cinco filhos: Luiz, Lauro, Laura, Lúcio e Josias. Sendo que Lúcio, o mais novo, ordenou-se Padre. O legado do ilustre palhocense Gercino José dos Santos é reconhecido pelos acadêmicos da Academia de Letras de Palhoça, ao ser eleito patrono da Cadeira número 28.

Senhores/as, hoje homenageamos aqui este cidadão Palhocence, comerciante, escritor, pintor, poeta, homeopata. Que por muito tempo cuidou com carinho dos moradores de uma pequena cidade, carente de tudo e graças a esses homens que fizeram história temos a cidade que conhecemos hoje.

Mais uma vez quero agradecer a escritora e presidente da ALP Neusa Bernado Coelho, aos confrades e confreiras, aos presentes, mas principalmente aos familiares deste cidadão ilustre de Palhoça.

Fonte: Acervo filha Laura e familiares, e Retrato do Passado, Gercino José Santos, 2003, Gráfica Ed. NovaLetra