Panegírico

Panegírico em louvor a Frei Ildefonso Silveira

Por: Daniel Silveira

Apresentado no dia 26 de março de 2024, às 19h30min, no Centro Cultural Laudelino Weiss - Centro - Palhoça - SC.

 FreiFrei Ildefonso Silveira - OFM, em Lages/SC, no ano de 1952.

Prezados Confrades, Prezadas Confreiras, Ilustríssimas Senhoras, Senhores e Distintas Autoridades Presentes.

É com profundo respeito e gratidão que nos reunimos hoje para prestar homenagem ao ilustre Frei Ildefonso Silveira, Patrono da Cadeira 29 da Academia de Letras de Palhoça.

Nascido em Palhoça no dia três de abril de 1922, filho de Laudelino Silveira de Souza (conhecido como Lalau) e Emília Knabben, Frei Ildefonso recebeu o nome de seu pai no batismo, mas ao ingressar na Ordem dos Frades Menores, adotou o nome religioso de Frei Ildefonso.

Descrever a grandeza de sua vida, uma vida dedicada ao serviço de São Francisco de Assis e à vivência da "Senhora Pobreza" é um desafio, pois ele próprio recusava qualquer forma de ostentação ou elogio, revelando sua essência marcada pela humildade.

Tive a honra de conviver com Frei Ildefonso Silveira, irmão de meu avô paterno, Jacob Santana Silveira, carinhosamente chamado de vô Totó. Em uma ocasião, meu estimado tio, o eminente pesquisador, escritor e historiador de Palhoça, Claudir Silveira, descreveu Frei Ildefonso como um homem extraordinário, que transcendia os padrões convencionais da humanidade. Concordo plenamente com essa afirmação.

O pouco tempo que convivi com Frei Ildefonso, muito aprendi.

Lembro que na minha infância e adolescência, nas décadas de 60 e 70, na casa de meus avós, no antigo centrinho de Palhoça, nas proximidades do Cine Pax e Cine Sharf, compartilhei alguns momentos, bons momentos, com Frei Ildefonso. Mas, sua história de vida não ouvi de seus lábios. Foi através de seus escritos e de relatos de familiares.

Meu querido avô Totó, Jacob Santana Silveira, casado com Gedalva Vanuncci, era o   seu irmão mais velho e em suas férias, sempre que possível, Frei Ildefonso os visitava; dessa forma aproveitava o momento para amenizar a saudade que sentia do seu “torrão natal”.

Naquela época boa parte dos moradores do antigo centrinho de Palhoça eram parentes.

Muitos desses momentos ficaram registrados nas fotografias que tirou e que conservo com muito zelo e carinho em um álbum que estava sob a guarda de meu tio Claudir Silveira. Aliás, Claudir Silveira é um dos patronos desta seleta academia de letras, com a cadeira n°21, ora muito bem representada pelo atual Diretor Geral confrade Marcos João de Matos. 

Não tenho dúvida em afirmar que o interesse de Claudir Silveira em registrar aspectos culturais e históricos sobre Palhoça e envidar esforços na produção do Projeto Memória Palhocense se deu por influência da convivência que teve de seu tio Frei Ildefonso por quem nutria grande carinho e admiração.

Frei Ildefonso legou a seus familiares, em forma de crônica, um belo registro escrito de sua vida.

EM LEMBRANÇAS DO TEMPO DE INFÂNCIA, ele, Ildefonso, relata acontecimentos ocorridos em sua tenra idade. Assim escreve Ildefonso:

O pai de sua mãe, Jacob Knabben, nascera na Alemanha, mas viera ainda rapaz para o Brasil em 1861. Atuou na política local.  Era delegado de polícia quando foi assassinado em 1910, pouco depois do casamento de seus pais.

Antes de seu nascimento, seu pai, atuou bastante na política com outros Silveira da família, entre os quais seu tio Vicente avô do Dr. Ivo Silveira, que seria mais tarde Governador do Estado de Santa Catarina [...].

A família possuía uma casa de comércio, um depósito de carga atrás de casa, junto ao canal, e uma lancha à vela, chamada Trovão, usual no tempo. Palhoça era um entreposto de ligação entre Florianópolis e zonas mais distantes, sobretudo da serra catarinense.

Frei Ildefonso era uma fonte inesgotável de conhecimento, autor de numerosos livros e um estudioso dedicado da espiritualidade franciscana. Sua modéstia e simplicidade o identificavam como um verdadeiro seguidor dos ensinamentos de São Francisco.

Apesar de sua vasta erudição, Frei Ildefonso jamais se deixou envolver por lisonjas ou vaidades materiais. Ele se vestia de forma modesta e desprendida de qualquer ostentação, valorizando o conhecimento acima de qualquer bem material, muitas vezes se referindo a si mesmo como um 'caboclo de Palhoça'!

Por fim, ao recordarmos trechos de seu necrológio, publicado na página da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM (Ordem dos Frades Menores / em latim Ordo Fratrum Minorum), somos lembrados de sua humildade enraizada e de seus amores especiais: sua biblioteca particular, seus cachimbos que impregnavam sua essência com um aroma peculiar, e seus canários, aos quais dedicava cuidado pessoal diariamente.

Sua obra literária, vasta e profundamente marcada pela fé e sabedoria, testemunha sua dedicação à disseminação dos valores franciscanos. De "Santo Antônio do Povo" a "Rumo ao Ano 2000", Frei Ildefonso deixou um legado inestimável para todos nós.

Alguns livros de sua autoria:

Santo Antônio do Povo;

O que é Franciscanismo?

São Francisco de Assis e nossa irmã terra;

Senhora pobreza;

Retrato de Santa Clara de Assis. Literatura Hagiográfica;

São Francisco de Assis em quadrinhos. Obra em parceria com Rose Marie Murano;

A vida dos Santos na Liturgia;

São Francisco de Assis – Ensaios de literatura das fontes;

São Francisco de Assis. Outro Cristo? ... Homem da nova era?

O passado interroga São Francisco;

Mansos filhos de São Francisco. Versus ferozes netos de Gengis Khan;

Rumo ao ano 2000.

Apesar de enfrentar as duras batalhas contra a leucemia e a artrose cervical, Frei Ildefonso suportou seu sofrimento em silêncio até o fim. E até o fim, ele manteve sua natureza extrovertida, testemunhando sua felicidade e, acima de tudo, sua realização como frade.

No dia 24 de fevereiro de 2002, Frei Ildefonso partiu deste mundo, deixando para trás um legado de humildade, sabedoria e amor ao próximo que jamais será esquecido. Que sua memória continue a inspirar e guiar nossas vidas, assim como inspirou e guiou a de muitos durante sua jornada terrena.

A todos, o meu mais sincero agradecimento.

Muito obrigado.

Palhoça, 26 de março de 2024.

                  Do seu sobrinho neto

Daniel Silveira