Discurso do Acadêmico Ney Santos saudando a Ivo Silveira

Discurso proferido pelo Acadêmico Ney Santos, Titular da Cadeira nº 23 da Academia de Letras de Palhoça, em favor Ivo Silveira, por ocasião da Entrega do Prêmio Ivo Silveira de Cultura de 2024, ocorrido no dia 22 de maio de 2024, às 20h00min, no Plenário da Câmara Municipal de Palhoça – Santa Catarina.

Senhora Presidente da Academia de Letras de Palhoça, Neusa Bernado Coelho; demais membros da Mesa; autoridades presentes; Acadêmicos da ALP e de outras Academias; distinta plateia,

Boa noite!

Há algum tempo peguei-me rememorando o ilustre, carismático e saudoso Governador Ivo Silveira e, em todas as imagens formadas em minha mente, eu o via usando um terno azul-marinho. Fiquei pensando: seria esta a sua cor preferida ou era a minha memória pregando-me uma peça?

Resolvi procurar por alguma informação que corroborasse ou desmentisse aquela minha suposição. Iniciei, obviamente, pelo mais fácil e rápido. Uma consulta ao “Tio Google”. Se nada encontrasse, dirigir-me-ia às bibliotecas para, à moda antiga, fazer a minha pesquisa.

O resultado, como era de se esperar, revelou-me que o Governador, sempre bem trajado, usava também outras cores, inclusive ternos em “Risca-de-giz” ou até uma trivial camisa do tipo “Gola-polo”, mas que lhe assentava muito bem e em nada o desmerecia. Minha memória havia me induzido a erro.

Mas voltemos ao homem Ivo Silveira, de sorriso cativante, capaz de empreitar longos percursos em um jipe para contatar sua base eleitoral – quem viveu os anos 50 e 60 sabe como eram as nossas estradas, naquela época, principalmente no interior do estado – e ouvir deles um entusiasmado “Ah, o Doutor Ivo chegou! ”

Estabelecer uma relação de amizade com os eleitores e suas famílias foi uma das atitudes que o tornaram tão querido, onde quer que estivesse, e fosse espontaneamente aplaudido.

Ivo Silveira, o mais ilustre filho de Palhoça, nasceu em 26 de março de 1918 e faleceu em 02 de agosto de 2007. Era advogado pela Faculdade de Direito de Santa Catarina. Sua trajetória política, apesar dos protestos de seu pai, iniciou-se em 1940, quando foi nomeado Adjunto de Promotor pelo Interventor do estado, Nereu Ramos.

Em 1943 foi designado contador da Prefeitura Municipal de Palhoça e em 1946, nomeado Prefeito desta mesma cidade pelo Interventor Udo Deeke.

Em 1947 foi eleito Prefeito de Palhoça, até 1950, quando se elegeu Deputado Estadual.

Foi o 18º governador de Santa Catarina, tendo exercido seu mandato de 31 de janeiro de 1966 até 15 de março de 1971. Durante o seu governo, entre outras obras, foi procedida a retirada do piso de madeira da ponte Hercílio Luz, substituindo-se o mesmo por camada asfáltica.

Falo desta obra específica por ser eu, na época, um menino de doze anos de idade, que, morador de Capoeiras e estudando no Instituto Estadual de Educação, acompanhava diariamente, de dentro dos ônibus da empresa Transportes Coletivos São João, os trabalhos que eram executados na velha ponte.

Já mencionei em outras ocasiões que, nas pouquíssimas vezes que o encontrei, vi nesse homem uma semelhança – na forma de agir, de falar ou de sorrir – com meu falecido avô materno que, coincidentemente era também um Silveira (sobrenome que trago em meus documentos oficiais) e dele, meu avô, fui muito apegado. Mas apenas esta minha opinião em nada acrescenta à biografia do gigante Ivo Silveira; por esta razão pensei em procurar alguém que o tenha conhecido aqui em Palhoça, sua terra natal, ou mesmo em outros lugares e que me pudessem dizer como se lembram dele. Tive sorte e delas transcrevo alguns depoimentos a seguir que, acredito, dão uma ideia de como o ser humano Ivo era visto e é, ainda, lembrado.

No ano de 2020, conversei com a Subtenente da Polícia Militar de Santa Catarina, Sra. Silvana Paes, que prestava serviço na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina, e ela me contava ter tido o privilégio de registrá-lo como Autoridade Presente em eventos da ALESC, na condição de ex-governador do estado. E acrescentava, visivelmente emocionada:

“O Senhor Ivo Silveira era, ao meu ver, um homem público respeitoso e respeitado por todos, mesmo por aqueles que não o conheciam pessoalmente”. E complementava: cumprimentava-me sorridente, todas as vezes que aqui chegava.

  Neusa Maria Bernado Coelho, atual Presidente da Academia de Letras de Palhoça, nascida e residente nesta cidade, e tendo conhecido o Governador nos anos 70, diz:

“Ivo Silveira era um homem admirado pelo povo palhocense e quando ele chegava todos procuravam se reunir em torno dele para vê-lo e ouvi-lo. Quanto à política, era um grande articulador”.

Ainda, segundo Neusa Coelho, ali o seu ponto de encontro preferido era, no mais das vezes, o Bar 7 de Setembro, hoje Cafeteria da Dona Maria, situada junto à praça central de Palhoça.

A Acadêmica Vanilda Tenfen Medeiros Vieira, como Ivo Silveira, também uma das fundadoras da ALP, relata tê-lo encontrado diversas vezes:

“No SOS Cárdio, quando funcionava na Avenida Trompowsky, na capital do nosso Estado – ele ia a pé, desde a sua residência – para averiguar a pressão arterial e consultar o especialista de coração; no Clube Sete de Setembro, aqui em Palhoça (em várias ocasiões); nas ruas de Palhoça, conversando com o povo, na sua simplicidade; na ALP, quando da sua fundação (sendo meu Confrade); na Academia Catarinense de Letras, que funcionava no CIC; nos lançamentos de livros do meu esposo/ escritor João Alfredo Medeiros Vieira...

Posso dizer que Ivo Silveira, com sua simplicidade, empatia e acessibilidade foi muito popular e querido pelos palhocenses e catarinenses”

E assim ela finaliza:

“Ivo Silveira, cidadão, diplomata, conciliador, acessível ao seu povo, enfrentou os desafios do seu tempo com retidão e coragem”

Realmente, o nosso inesquecível governador tinha sim esse carisma inato, essa capacidade magnética, que tão poucos têm, de atrair as pessoas e lhes transmitir verdades e fazê-las sentirem-se felizes com apenas algumas poucas palavras. Digo-lhes sinceramente que a mim ele o fez.

Ivo Silveira foi membro da Academia de Letras de Palhoça, empossado em 01 de fevereiro de 2003, figurando entre os fundadores da ALP, Patrono da Cadeira nº 07, atualmente ocupada pelo Acadêmico Rudney Otto Pfützenreiter. Merecida homenagem a este homem que, para mim e, quero crer, para a maioria do povo catarinense, sempre foi sinônimo de pessoa íntegra, capaz e honrada.

 A todos, o meu muito obrigado!


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