Discurso da Acadêmica Neusa Maria Bernado Coelho, em favor de Gelci Coelho, o Peninha

Discurso proferido pela Acadêmica Neusa Maria Bernado Coelho, Titular da Cadeira nº 24 da Academia de Letras de Palhoça, em favor do Historiador, Escritor, Museólogo e Folclorista Gelci Coelho, o Peninha, na Sessão Solene de Entrega do Prêmio Ivo Silveira de Cultura, realizada no dia 24 de maio de 2023, às 20h00, no Plenário da Câmara Municipal de Palhoça–Santa Catarina.

 

Saúdo o Presidente da Academia de Letras de Palhoça, o sr. Ney Santos, em nome dele, os demais integrantes da mesa, Acadêmicos, convidados, familiares do homenageado, senhoras e senhores.

Boa noite!

É com imenso orgulho e satisfação que Academia de Letras de Palhoça, vem nesta noite, homenagear com o Prêmio Ivo Silveira de Cultura - edição 2023, o nosso saudoso folclorista, artista visual, ator, dramaturgo, museólogo, historiador e pesquisador, Gelci José Coelho, conhecido carinhosamente com alcunha de Peninha.

Filho número nove de dona Alcides Silveira e do sapateiro e tocador de Acordeon, José Elias Coelho, o seu Zé Elias.  

Gelci Coelho nasceu num casarão no centro de São Pedro de Alcântara, em 10 de agosto de 1949.

 O menino adoentado com problemas pulmonares foi levado às pressas para ser batizado, por conta disso seu nome foi trocado na certidão de nascimento, o que deveria ser seria Davi ficou Gelci.

Seu contato com o místico e sobrenatural começou muito cedo, quando a mãe, conhecida cabelereira, às vezes parteira, recorria aos remédios caseiros, simpatias e benzeduras para amenizar o pianço ou asma que o acompanhou por toda a vida.

Por diversas vezes Peninha relembrava que sentado sobre uma esteira de taboa no meio do salão do casarão de São Pedro, brincava e ouvia atentamente lendas, histórias de bruxas e de seres elementares que corriam ao “pé do ouvido” dos moradores e dos viajantes que frequentavam a hospedaria e restaurante do seu pai, Zé Elias.

Aos domingos, era dia das animadas “Domingueiras”.

Sua casa ganhava coreto e se transformava em salão de baile, frequentado por muita gente vinda dos sertões da colônia, após assistirem a missa na igreja da vila. Toda essa vivência despertou em Peninha o interesse pela cultura popular.

Aos sete anos, mudou com a família para a Praia Comprida, SJ, de lá do alto da colina, fazia poesias, observando a natureza e as ondas do mar.

Na fase adulta, Peninha se expressa em diferentes manifestações artísticas:  pinta, desenha, compõe, canta, dança e faz teatro. O que podemos dizer desse artista múltiplo que sonhava ser professor?

Primeiro ingressou no curso Normal do Colégio Governador Ivo Silveira em Palhoça, tendo como mestres os ilustres palhocenses, Febrônio Oliveira e Najla Carone Guedert.  Seguiu estudando, formou-se em História na UFSC e Museologia no MASP, ministrou aula na Universidade Federal de SC e por dez anos trabalhou com o professor e folclorista Franklin Joaquim Cascaes, tornando-se seu admirador e discípulo.

Em 1996, assumiu a direção do Museu de Antropologia e Etnologia da UFSC até a aposentadoria, em 2008.

Peninha defendia que a “Arte é a Expressão da Liberdade”, nesse sentido atraiu curiosos na década de 1970, quando instalou o Presépio da Catedral, produzido com anjos de piteira, barba de velho e catuto, na Praça XV de Novembro, em Florianópolis.

Em Palhoça, deixou sua marca no inusitado Palhostock - Festival de Música Pop, ocorrido em 1974.

Em Itaguaçu, transcendeu toda sua genialidade na decoração da Boate Capelinha, e ressignificou a praia com o Baile das Bruxas, enquanto o Cambirela chorava tanto que as suas lágrimas formaram o mar.

Orgulhosamente Peninha dizia: “Inventei uma história que as pedras são bruxas e que o diabo as transformou em pedra para castigá-las por desobediência”. Com o sucesso, o contador de histórias conseguiu a construção de um monumento dedicado ao mestre Cascaes nas antigas terras da família.

Entre folclores e lendas protagonizou o termo “Ilha da Magia” nome dado à Capital do Estado, e para afastar as bruxarias de Floriano, Peninha fez uma reza com o Símbolo de Salomão.

O talento de Peninha lhe rendeu

A Medalha de Mérito Cruz e Souza, concedida pelo Conselho Estadual de Cultura;

 O Troféu Açorianidade do Núcleo de Estudos Açorianos da UFSC;

O Troféu “O Manezinho da Ilha” criado por Aldírio Simões, e outras infinidades de homenagens por seu Destaque Cultural.

Aposentado, Peninha encontrou em Palhoça a encantada Enseada de Brito, lugar tranquilo, onde viveu até os 74 anos de idade. Lá na sua bela morada, repleta de artes, recebia os amigos.

Em 2019, tive o imenso prazer de participar do lançamento de seu livro “Narrativas Absurdas, verdades contadas por um mentiroso”. Outras vezes o visitei na Enseada, sem esquecer de levar o camarão empanado da dona Maria, minha mãe, que ele tanto gostava. Lá, o encontrava sentado à mesa com seu sorriso largo, lápis e papel na mão e, ao lado, um pequeno gravador. Apesar dos problemas respiratórios e do tubo de oxigênio que o acompanhava, contava histórias, desenhava e praticava a devoção no Divino Espírito Santo.

Peninha ícone na preservação da cultura popular catarinense flutuou entre o Real e o Imaginário. O grande mestre da cultura pereceu fisicamente em 16 de abril de 2023, mas continua vivo entre nós com lembranças e saudades.

Por tudo que Gelci José Coelho representa para nossa arte e cultura, tenho a honra de dizer que os Acadêmicos da Academia de Letras de Palhoça, o escolheram por unanimidade, para ser homenageado nesta solenidade com o “Prêmio Ivo Silveira de Cultura” – Edição 2023, distinção a ser entregue à Mirela Zacchi Coelho e Janete Coelho da Silva, sobrinha e irmã, respectivamente.

Muito obrigada!


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