Discurso da Acadêmica Neusa Coelho em favor de Déspina Boabaid

Discurso de Saudação proferido pela Acadêmica Neusa Maria Bernado Coelho, à Confreira Déspina Spyrídes Boabaid, na Sessão da Saudade realizada no dia 27 de setembro de 2022, às 19h30min, na sala 308 do Centro Comercial Thiago, Centro-Palhoça-Santa Catarina.

Excelentíssimo Sr. Presidente Ney Santos; excelentíssimos convidados, Confrades e Confreiras; familiares e amigos da Acadêmica Déspina Spyrídes Boabaid.

Meu muito Boa noite!!

Em primeiro lugar gostaria de dizer que é uma enorme honra para mim, conterrânea desse torrão, reverenciar a memória da Confreira Déspina Spyrídes, membra da família Boabaid, cidadãos que muito contribuíram para o desenvolvimento do município de Palhoça.

Iniciarei esta saudação, com uma frase atribuída ao médico oncologista Rogério Brandão: “Saudade é o amor que fica”. Amor eternizado nas ações e nas produções literárias da Confreira Déspina, imortalizada na Cadeira número 2 da Academia de Letras de Palhoça. Em seu Discurso de Posse no dia 13 de fevereiro de 2003, a cofundadora deste sodalício, se dirigiu à tribuna, e falou da satisfação em participar da instalação da egrégia Academia, dizendo. “O Município de Palhoça não poderia ficar indiferente a esse surto, a essa onda de incentivo à cultura, às letras e à intelectualidade que se vem manifestando em todas as cidades”. Cumprimentou cordialmente os idealizadores da feliz iniciativa, e agradeceu penhoradamente o convite para integrar uma das Cadeiras da Academia, sob as luzes do imortal Presidente e sobrinho Paschoal Apóstolo Pítsica. Um dos motivos e talvez o mais forte que a fez aceitar, de pronto, foi o gesto de homenagem prestada ao falecido esposo, José Boabaid, oferecendo-lhe o lugar de Patrono na Cadeira que ocuparia na ALP.

Descendente de gregos, Déspina nasceu em 21/12/1921, filha de Nicolau e Kyriaki Spyrídes, fundou a Associação Helênica de Florianópolis em 1951, e a Academia de Letras de Palhoça, em 2003. Estudou e recebeu Diploma de Normalista no Colégio Coração de Jesus, fez especializações pedagógicas no Rio de Janeiro. Dirigiu o Grupo Estadual Ruy Barbosa e criou a ACP-Associação Cultural de Professores de Joinvile. Catedrática, lecionou as disciplinas de  Sociologia, História e Filosofia da Educação, no IEE, Institiuto Estadual de Educação Fpolis e no Centro Educacional Estadual Pedro II, em Blumenau, ocasião em que já produzia literatura em jornais da região. Em 1968, formou-se em Direito pela UFSC, vindo a exercer a profissão de advogada por vários anos na companhia do marido, também advogado, José Boabaid.

A força do destino uniu a jovem Déspina ao cidadão palhocense. Seus caminhos se cruzaram aqui, ao ser nomeada professora interina para lecionar no Grupo Escolar Venceslau Bueno. À época, era professor e diretor daquele estabelecimento, o advogado em início de carreira, José Boabaid, nascido em 1906, filho de Abrão Boabaid e de Maria Boabaid. Aqui exerceu a função de promotor adjunto, e, posteriormente, relevantes cargos políticos em SC, entre eles o de Presidente da Assembleia Legislativa e de Governador interino nos anos de 1948-1950.

Déspina Spyrídes contraiu matrimônio com José Boabaid em 29 de julho de 1950, em Florianópolis. Dessa união nasceram: Margaret Spyrídes Boabaid, formada em Engenharia elétrica-telecomunicações, mãe de Ricardo e Eduardo Boabaid Pimentel Gonçalves. A segunda filha é Lylian Spyrídes Boabaid, graduada em Arquitetura e em Educação Artística, mãe de Leonardo e Karen Spyrídes Boabaid Zupan, nesta família nasceu Ana Luiza Schneider Zupan, bisneta de Déspina.

Sem ter o privilégio na convivência com a Confreira, ora homenageada, desejo tão somente, evocar dois fatos marcantes: Um foi quando a conheci neste sodalício em 2017; o outro por ter conhecido, na década de 1970/80, alguns de seus familiares, moradores do Centro de Palhoça.

No quarteirão ao redor da Praça 7 de Setembro moravam as irmãs de José Boabaid, cunhadas de Déspina, chamadas de Schafia e Badia, esta mãe das conhecidas professoas Najla, Zizinha e Neifa. Ao lado direito da Praça moravam os filhos de Najla, que em época de festa da Paróquia, reuniam-se com as primas Margaret e Lylian para assistir, de janela, a passagem da procissão. Hoje, estas ainda mantém laços com Palhoça, por meio de uma antiga propridade ao lado da Praça. (aqui abro um parênteses para dizer que fui aluna da  professora de Ciências, Neifa,  no Colègio Gov. Ivo Slveira, na década de 1970)

O gosto pela literatura acompanha a nossa Confreira Déspina desde a juventude. Na década de 1950, destacou-se ao escrever contos e poesias publicados na Revista do “Grupo Litoral”, fundado pelos sobrinhos Paschoal Apóstolo Pítsica e irmão. Entretanto, dedicou-se a arte de escrever sonetos, sua grande paixão. Os versos compostos por dois quartetos e dois tercetos em arranjos pré-definidos deu forma à obra clássica “Uma Flor, Com Amor”. A poética composta por rimas e métricas apuradas, publicada em 2000, é dedicada às filhas Margaret e Lylian, suas joias preciosas: “Dedico este livro com Uma Flor e Com o meu coração onde, por elas, brotam o mais puro Amor, a maior ternura”. Sua veia lírica é semelhante ao "Parnaso", que na mitologia grega significa a montanha consagrada ao Deus Apolo e às musas da poesia, desperta sentimentos de amor e de saudade. Nesse processo de criação cito Olavo Bilac: “O soneto é um pensamento de ouro [...]” Gênero utilizado pela Confreira Déspina para homenagear as filhas, netos, irmãos, pais, esposo, genros, amigos, professores, natureza, entre outros.

A obra “Meghísti”, publicada em 2013 é dedicada aos pais: Nicolau e Kyriakí.  Foi na pequena e encantadora Ilha Grega, localizada entre três Continentes, onde nasceram os genitores da confreira Déspina.

Senhoras e senhores, nesta data também quero relembrar e enaltecer, com emoção, o título de Cidadã Palhocense, recebido por Déspina Spyrídes Boabaid na Sessão Solene do dia 30 de novembro de 2006, na Câmara Municipal de Palhoça. Destaco outra honraria recebida num importante concurso realizado pela OAB em 1999, no qual foi outorgada Menção Honrosa com o texto intitulado: “Uma Viagem de Trem” publicado no livro “Contos de Advogados”.

Cidadã amorosa, despida de orgulho e vaidade, mãe exemplar, amiga, cultora da literatura, passou desta para o além, em 13 de junho de 2019,  aos 97 anos, deixa um grande vazio no seio familiar, social e cultural. Mas ela não partiu para outras paragens, sua alma está viva entre nós, soneteando com seu sorriso meigo.  Exalto a memória dessa grande mulher, sua passagem por esta Casa Literária permanece nos corações dos Acadêmicos, na Antologia Literária Sinfonia, e demais obras publicadas.

Permita-me senhores, ler um soneto extraído da obra “Uma Flor, Com Amor”, louvo- lhe os méritos da grande intelectual, ora homenageada, com a “Prece”.

 

.PRECE

Senhor, aos teus pés, ajoelhada,

A ti elevo a mente com fervor.

Rendo-te graças, canto o meu louvor.

Por tudo que me deste, obrigada.

Enquanto sigo a minha caminhada,

Divino Sol emana o teu calor,

O amparo dá-me, pois, do teu amor,

Dá que tua Luz inunde a minha estrada.

É como um fim de tarde! Um belo ocaso!

Declina o tempo, vai findando a lida.

Minh’alma quando voar aos braços teus,

Em busca das delícias do Parnaso,

Que eu seja digna, livre desta vida,

A ti voltar, meu Pai, meu Rei, meu Deus!. (Déspina Spyrídes Boabaid)

Prezados familiares e amigos da notável literata, recebam esta homenagem, como um testemunho de admiração, de apreço e de estima a quem soube legar amor e colaboração em companhia do esposo José Boabaid, no processo de desenvolvimento cultural do município de Palhoça, e por conseguinte à Academia de Letras de Palhoça, do Estado de SC  e do Brasil.

Meu muito obrigada!


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