Discurso de posse

DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA DE LETRAS DE PALHOÇA

ACADÊMICA: CARMEM MARIA CARVALHO DE LIMA

 

Ilmo. Srs. Paschoal Apóstolo Pítsica, Sr. Manoel Sheimann da Silva, Presidente eleito desta Academia, demais acadêmicos e autoridades aqui presentes.

Senhoras e Senhores,

É para mim uma grande emoção e também uma grande honra, representar a Cadeira acadêmica, na figura de meu saudoso pai, Horácio Serapião de Carvalho, imortalizado na Academia Catarinense de Letras da Capital.

Nascido em 30 de outubro de 1872, na colônia de Santo Amaro, filho de Marciano José de Carvalho e Maria Madalena Andrade Carvalho.

Marciano veio com a família para Desterro e aqui começou a trabalhar como comerciante. Possuidor de grande inteligência, logo soube amealhar bons lucros, aumentando seu patrimônio, adquirindo terrenos e casas. Era muito econômico e teve vários armazéns de “secos e molhados”. O primeiro, na rua da Cadeia (hoje Tiradentes), mais tarde transferiu-se para a rua Saldanha Marinho.

Seus filhos tiveram o privilégio de adquirir muitos conhecimentos nas escolas da época.

Horácio logo superou-se como grande estudioso da literatura da época com seus companheiros Cruz e Sousa. Virgílio Várzea, Oscar Rosas, Santos Lostada e outros. Reuniam-se em grupo nas tertúlias literárias, nas apresentações teatrais e na leitura de livros recomendados pelos companheiros.

Seu pai incentivava-o, apoiando suas ideias e ajudando a todos, influência esta que lhe valeu observação do historiador Dr. Oswaldo Rodrigues Cabral, que num de seus livros, destacou uma passagem que o terreno, onde hoje se localiza o nosso renomado Colégio Coração de Jesus, era de sua propriedade.

As primeiras Irmãs da Divina Providência, chegadas da Alemanha, compraram o dito terreno e assim foi fundado o nosso querido Colégio, onde eu, minhas filhas, netas e talvez bisnetas, estudamos.

Em 1885, Virgílio Várzea traçou-lhe o perfil e disse: “É uma perfeita vocação para a literatura moderna, se continuar a estudar com a convicção no que se propõe, poderá ser, mais tarde, uma individualidade distinta, um literato digno de ser lido pelos que sabem ler.”

Ao contrário dos amigos, Horácio frequentou muito pouco as colunas dos jornais, ficando, por isso, distante das escaramuças que seus companheiros moviam contra os que não comungavam das mesmas ideias estéticas.

Era o mais novo do grupo, mas não o menos circunspecto.

Cruz e Sousa tinha por ele grande estima e o considerava muito, distinguindo-o para ensinar o português

Numa página de evocação inserida na seção “Dispersos” da “Obra Completa”, o poeta de Farois fala carinhosamente desse amigo, comparando-o “a um lorde inglês, algo assim parecido com um cacto ou uma flor boreal nascida sobra a rocha, ou sobre o gelo, vermelha ou alva, perdida tristemente na esterilidade queimada por um sol de brasa ou na desolação da frigidez imensa.” Trata-se de um perfil de importantes observações psicológicas, que chega a pressentir para Horácio a não realização de sua carreira artística.

Essa previsão se constatou, pois, abandonando o grupo, Horácio viajou para o Rio de Janeiro, a fim de prestar exames para a Escola de Medicina. Foi aprovado, mas com seu temperamento fraco e nervoso, abandonou o curso logo na primeira aula de anatomia, avisando aos colegas que ia tomar um cafezinho, e nunca mais voltou.

Depois envolveu-se com atrizes francesas, que, naquela época, eram a atração do Teatro Municipal do Rio, com isso, nada lhe rendendo, voltou para Desterro, doente e depressivo. Depois, conheceu minha mãe num baile no Clube Doze de Agosto, logo se casou com ela e recomeçou a trabalhar.

Como conhecia outros idiomas, foi logo chamado para ensinar o Português para os alemães, que acompanharam o grande industrial Karl Hoepcke, que havia chegado, para formar uma grande firma comercial. Assim, Horácio lecionou durante 28 anos, preparava os rapazes, filhos das famílias mais importantes de Desterro, para cursarem as faculdades do Rio e São Paulo, pois na Ilha ainda não haviam os cursos preparatórios.

Mais tarde, foi convidado para secretariar o Tribunal de Justiça, onde se dedicou alguns anos. Depois, por questões adversas, afastou-se.

Acontecimentos futuros aumentaram-lhe a depressão, mesmo assim, ainda se dedicou ao Magistério, lecionando em Laguna no Colégio Jerônimo Coelho. Por questões de saúde, durante o surto de gripe espanhola, voltou com a família para Desterro, onde passou o resto da vida, triste, doente e depressivo.

Em 6 de fevereiro de 1935, faleceu e hoje seus restos mortais estão no jazigo da família Carvalho, no cemitério Nosso Senhor dos Passos, na vizinha cidade de São José.

Agora, com toda esta idade, eu procuro cultuar a sua memória. Pedi aos escritores Flavio Cardozo e Iaponan Soares, que muito me auxiliaram nas pesquisas.

A eles devo muito, como também ao nosso digno Presidente de Honra (in memoriam), Dr. Paschoal Apóstolo Pítsica, que me deu toda a força e vontade de escrever sobre meu querido pai.

Muito Obrigada!

 


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