Contos

 Gerâneos

Um conto quase verdade

Cecília Maria Rezende está nos seus oitenta e quatro anos e continua se dispondo a limpar a casa, ainda que se multiplique em esforços para dar conta. Naquela manhã de primavera, arrumou a cama e tomou o café matinal acompanhado de sanduíche misto e ovos, antecedido da salada de frutas frescas. Em seguida, no toalete, aplicou cremes protetores no rosto e arrumou os cabelos. No closet, ao separar as roupas, concluiu que o destino daquela manhã não exigia tanta elegância, mas algum cuidado para não cair no trivial. Trajou um conjunto de calça e blusa marrons, com tênis e casaco tendentes à cor escura. Jóias, nenhuma, somente o relógio de visor digital.

Satisfeita com a opção do vestuário, sobraçou uma bolsa preta, colocou os óculos de sol e sentou-se no sofá de couro da luxuosa mansão de bairro nobre, no aguardo do neto, convocado para levá-la ao cemitério da cidade.

Estava preparada para encontrar a criatura que norteou seu vitorioso destino, de forma tão digna e maravilhosa. Era sua reação a um presságio surreal que a surpreendeu, há quatro dias. Parecia que alguém a chamava pelo nome, logo identificando seu autor.

Em alguns minutos a campainha tocou. Leandro era um homem feito de vinte e oito anos, vestindo sempre roupas esportivas da moda. Formado em computação e bem empregado, já ostentava ótima independência financeira. Cumprimentou a avó Cecília e os dois saíram no automóvel dele.

O campo santo era imenso, com os túmulos e jazigos tomando todo o espaço possível. As passagens eram diminutas, deixando restritas as vias de acesso aos endereços dos mortos.

Avó e neto iam devagar a um lugar que nem ela saberia exatamente onde. Ele estava caminhando bem, mas ela apoiava-se numa bengala, com cuidado para não tropeçar nas pedras ou pisar em algum buraco no leito da passagem. De longe vinha o ruído de veículos transitando pelas ruas vizinhas. O marco de referência para Cecília encontrar o que procurava era uma grande árvore, bem nos fundos do terreno. Foi o detalhe que guardou na lembrança, quando veio a um único sepultamento, há muitos anos. Ela acreditava que um pouco de sorte também ajudaria.

- O que a senhora procura, vovó? – finalmente Leandro questionou.

- Você já vai saber e me dará razão. Acho que é por aqui – enfim ela achou a pista, por uma árvore junto ao muro.

- Procure uma lápide com o nome Pedro Amaral. A sepultura deve estar com aspecto bem desgastado, tem mais de setenta anos.

- Setenta anos, vovó? Tanto tempo, será que vamos achar?

- Acharemos, sim. Tive informações de que os pais do finado eram caprichosos e não iriam abandoná-lo. É o que eu espero – disse Cecília, sinalizando alguma dúvida, com sua voz rouca e pausada.

- Vovó, venha até aqui – chamou Leandro, bem de longe, empolgado, após longa procura.

Cecília caminhava o mais rápido quanto suas pernas admitiam. Aos poucos, uma fração tênue de lembrança ia avivando sua localização.

- Meu Deus, parece que uma página está se abrindo. Sim, além da árvore, esta pedra me faz voltar ao passado – disse ela entusiasmada, indicando uma imensa pedra que dividia duas fileiras de túmulos.

- Dá para comemorar, vovó. Tudo faz crer que seja mesmo o Pedro Amaral. Algumas letras caíram, mas deixaram suas marcas. Há uma indicação de anos, 1935 e 1944. Depois eu quero sua explicação, vovó, até onde sua vida se cruzou com uma criança que morreu aos nove anos, em 1944 – disse o neto, cada vez mais curioso e confuso.

A sepultura estava toda escura, coberta por uma lama seca, indicando que fazia muito tempo que não fora limpa. A lápide, também escura, estava separada e tombada, quase caindo no chão.

- Leandro, pegue seu celular e telefone para a administração do cemitério. Chame um funcionário.

Em menos de quinze minutos apareceu um homem franzino, com a fisionomia carregada. Estava preocupado. Devia ser um assunto importante para tirá-lo da administração, longe dali. Chegou a imaginar a descoberta da profanação de alguma sepultura para roubar objetos de ouro, sacrilégio comum naqueles dias.

- Bom dia, senhor. Eu sou Cecília Rezende. Como é o seu nome?

- Carlos Silva, funcionário do cemitério – disse o homem, com o cenho mais aliviado, ao ver o rosto brando da mulher.

- Senhor Carlos, por favor – começou Cecília, indignada – veja este túmulo. Mal conservado ao extremo.

- Senhora – respondeu de imediato o homem – não é responsabilidade da administração limpar os túmulos. Isto é competência dos familiares. No entanto, pelo estado do granito, conclui-se que este há muitos anos não é limpo. Nem sei como não foi removido. Creio que há mais de quinze anos ninguém da família apareceu por aqui.

- Meu senhor, faço-lhe um pedido.

Carlos chegou-se para escutar melhor.

- Eu tive uma ligação afetiva com esta criança, no passado. Proponho que vocês construam aqui um novo túmulo, digo, um lindo túmulo. De mármore importado. Coloquem embaixo os restos do Pedro Amaral e a gaveta de cima fique à disposição desta velha senhora.

- Vovó, a senhora já não tem o jazigo da família? – disse Leandro, questionando a proposta.

- Não se preocupe, meu neto, depois eu lhe conto toda a história.

- Eu vou consultar o diretor geral. Mas, a senhora sabe, nada como um bom dinheiro para satisfazer sua vontade – concluiu o homem.

- Eu pago o quanto for necessário. Isto aqui é uma questão pessoal minha, somente minha, e inclua no orçamento quatro jardineiras com gerânios.

- Sim, deixe-me seu contato que em seguida dou-lhe o retorno. Quanto a esta sua história, dona Cecília, por minha experiência nesta profissão, ao contrário do que se fala, no cemitério tem vida. Tudo de bom ou ruim no mundo dos vivos acabam aqui se refletindo. E o seu desejo será cumprido. A senhora será sepultada, sim, junto com a pessoa que lhe propiciou alguma felicidade, eu prometo – atestou o homem do cemitério, sensibilizado, retirando-se.

- Leandro, de hoje em diante você será meu procurador nesta tarefa de fiscalizar a construção do túmulo, conforme combinado. Agora me deixe rezar ao menos um Pai Nosso.

Apoiando-se na bengala, Cecília, de pé e olhos fechados, compenetrou-se numa oração silenciosa. Só os lábios se mexiam.

- Meu querido neto – ela começou, quando andavam para a saída – têm certas coisas que acontecem involuntariamente, sem explicações. – Cecília deteve a caminhada e fixou o olhar para o neto - o coração se abre, entra um sopro idílico de bondade e volúpia prazerosa, e depois ele se fecha, bloqueia-se, determinado a nunca mais se abrir. Foi o meu elo com este menino. Eu estudei no colégio com ele. Eram os idos de 1944, na quarta série. Tínhamos a mesma idade, nove anos. Aconteceram dois fatos carregados de romantismo que nos uniram para sempre. Foi a primeira vez na vida que pressenti isto, um afeto tão precoce quanto decisivo.

Chegando à mansão, Cecília e o neto sentaram-se confortáveis frente a frente.

- Em Florianópolis – ela recomeçou - o progresso chegava devagar. Fazia poucos anos que uma ponte ligara o continente à ilha. Das ruas, ouviam-se o trotar de cavalos, que puxavam as carroças abastecendo o tímido veio comercial.

- O colégio era o mais tradicional da cidade. As salas eram bem arejadas, com biblioteca de bom acervo e boa estrutura para esportes. As carteiras eram geminadas, em madeira escura. Meninas sentavam-se à frente dos meninos. Cada turma acolhia trinta alunos. Eu ocupava a primeira fila, bem ao meio. Pedro sentava-se na quinta fileira, à direita rente à parede. E ele era educado: entrava na sala em silêncio, dava bom dia à professora, tirava o caderno da mochila de pano e acomodava-se na cadeira, aguardando o solene começo da aula. Ao contrário dos outros que entravam em desrespeitosa zoada. Quando algum assunto difícil era exposto, sempre o Pedro era o primeiro a mencionar dúvidas e a professora tornava a explicar. Ele tinha voz firme e a professora não duvidava de que nova explicação seria inevitável. E havia as comemorações de aniversários. Cantavam-se músicas alusivas e as mães traziam doces para completar a festa.

- E aconteceu o primeiro arroubo de afeto entre eu e o Pedro. No dia do meu aniversário, 11 de maio, quando a professora citou meu nome, houve uma explosiva cantoria de “parabéns a você”, seguida de vivas e aplausos. E o fato marcante aconteceu, notado por todos. Pedro chegou-se à minha frente e, sem qualquer timidez, ofereceu-me uma flor. Era vermelha e branca, com o caule verde. Eu fiquei encabulada. Mas ele se manteve ali, de pé, firme e decidido, segurando a flor, parecendo um soldado cumprindo uma ordem. Aceitei-a e imediatamente senti seu perfume. A professora encarregou-se de divulgar a boa nova. “Olhem, o Pedro entregando uma flor à Cecília, pessoal, que bonito”. E todos se emocionaram. A professora continuou, “é um gerânio, símbolo da sinceridade”- ela completou.

- Pedro acenou para a turma, olhou em minha direção e se retirou, feliz pelo dever cumprido.

- Desde aquele dia passei a olhar para ele com mais admiração. E ele retribuía um olhar faceiro. Eu até que era bonitinha. Usava brincos de bolas douradas e o cabelo ornado em tranças. Por capricho da mãe, meu uniforme azul e branco era sempre limpo e engomado, parecendo novo.

- O Pedro tinha uma carinha bem infantil, mas suas atitudes eram de seriedade, cada vez mais adultas. O uniforme era limpo, mas, por descuido, o cadarço do sapato estava sempre com o laço desatado.

- Quando começou o segundo semestre, notei que o Pedro não estava legal. Ficava meio desatento e não olhava para mim. De quando em vez ele faltava à aula, e a professora não sabia explicar. Também não fazia perguntas, quando pairava alguma dúvida na matéria. Estava sempre com as mãos à cabeça, parecendo segurar algo pesado. Um dia, a professora explicava uma operação de matemática no quadro-negro. De repente, ela se virou e parou de falar. Houve um silêncio na sala. Ela foi até a carteira do Pedro. Encontrou-o com a cabeça caída, apoiada sobre as mãos. “O que há Pedro?”, ela perguntou. Pedro levantou a cabeça, mas parecia que estava tonto e não conseguiu responder. “Professora Ana Cláudia, a senhora poderia chamar a mamãe?”, ele pediu por fim, em voz fraca, mostrando os olhos fundos. A mãe dele chegou logo em seguida. Ela não chorava, mas a tristeza do rosto refletia o quanto ela foi atingida pelo estado doentio do filho único. Pedro tentou ficar em pé, mas não teve forças. Quis dizer alguma coisa, mas não conseguiu. Foi levado no colo por um funcionário da escola, horrorizando toda a turma. Eu coloquei as mãos no rosto, apavorada. “Logo o Pedro”, comentei entre as meninas. Era começo de setembro, quando se seguiu o feriado longo alusivo à semana da independência. Ao retorno das aulas o Pedro não mais compareceu ao colégio. Houve uma pergunta à professora e ela explicou que ele estava no hospital.

- Eu não suportei a ideia de esperar outra notícia ruim e fui ao hospital com a minha mãe. Ele estava na ala de oncologia. Ao ouvirmos esta palavra, fui advertida pela mãe de que o caso poderia ser grave. Na recepção indicaram o quarto seis. Houve uma informação técnica da enfermeira. O paciente foi acometido de um tumor cerebral agressivo, motivo de sua fraqueza e mal estar. A medicina na época pouco sabia sobre a cura do câncer, seu diagnóstico era fatal. Foi quando ocorreu o segundo ato, mais repleto ainda de afeição, entre eu e ele. Abrindo a porta do quarto suavemente fui surpreendida com o Pedro sentado à cama, com a cabeça toda envolta em gaze branca. Mal apareciam os olhos, o nariz e a boca. Ele estava sonolento, mas me reconheceu. “Cecília, estou feliz por você ter vindo”, disse ele, bem devagar e vacilando nas palavras. Após os cumprimentos, ele sorriu e anunciou, “tenho uma lembrança para você” e entregou-me um pedaço de papel, com manuscrito em letras grandes. “CECÍLIA, SEJA SEMPRE GENTIL, ESTUDIOSA E BONITA. PEDRO”. Não era somente um conselho, mas uma preciosa e comovente declaração. No início entendi como um elogio, no entanto um presságio desconfortante inundou minha alma, fazendo acreditar que aquela mensagem era uma despedida, um adeus. Depois eu perguntei como ele estava e quando iria retornar para a aula. “Não sei, estou muito cansado”, ele falou quase inaudível, puxando a coberta e deitando-se para o outro lado da cama. Toquei em seu ombro pedindo que ele voltasse. Sem a reação esperada, insisti. “Volte para mim, Pedro. Eu gosto muito de você”. Ele nem se mexeu. Fui embora inconformada. Em casa, sozinha no quarto, rezei e chorei muito.

- O mês de outubro começou em estado de choque. Sem notícias do Pedro as aulas eram silenciosas, nenhum sorriso. As matérias não eram entendidas. A carteira dele manteve-se vazia, ninguém ousava ocupá-la. Até que um dia, o diretor do colégio chegou-se à professora e sussurrou algo terrível. “Meus alunos”, - começou a professora, comovida – “a notícia não é boa, e eu não queria lhes informar, mas tenho de fazê-lo mesmo contra minha vontade, o Pedro não resistiu à última operação”.

- Eu caí num pranto silencioso.

- “Por que uma criança?” - protestou a professora, continuando, com o rosto choroso. - “Meu Deus”, - ela disse - “há poucos dias ele falou comigo bem baixinho, que pretendia estudar inglês e que o avô ia lhe ensinar a tocar violino. Menino cheio de sonhos. Não dá para acreditar, não dá, não dá”.

- O enterro foi concorrido. Todos os alunos e professores do colégio compareceram. Os pais dele, inconformados, choravam muito. De tamanho menor, o caixão era todo branco. Carregava um anjo, um menino bom, de índole saudável. Os religiosos que me perdoem, mas Deus foi cruel demais, machucou a todos nós. Pedro levou com ele o fragmento de paixão que começava a despertar em mim, e nunca, nunca mais retornou com o brilho que ele inspirou.

- Depois de tanta tristeza, pedi à minha mãe que me tirasse daquele colégio. Com mais alguns anos de estudo, consegui me equilibrar e fazer a vida seguir, cada vez mais produtiva. Confesso que foi difícil abandonar a terna emoção e me atirar no universo competitivo e impiedoso. Encontrei o mundo complicado. Só se falava nas atrocidades da guerra, e ainda imperava a hedionda discriminação contra as mulheres. Na juventude, consegui um bom emprego e cursei a faculdade de Economia e suas áreas especiais, capacitando-me a formar uma robusta e crescente saúde financeira.

- No meio de tudo, cumpria com folga as virtudes sugeridas por Pedro: praticava a gentileza e a tolerância, lia tudo ao meu alcance, frequentava galerias de artes, comparecia a todos os concertos e me vestia cumprindo os ditames da moda. Fiz mais, estudei piano, qualidade indicada para as boas moças da época, onde reforcei a minha espiritualidade nas harmonias perfeitas de Mozart e nas melodias sacras de Fauré.

- Em seguida encontrei o marido, o Álvaro. Depois vieram os filhos. O Roberto, a Roséris e o Raulino. E o tempo correu com incrível rapidez. Você foi a minha alegria, Leandro, era o primeiro neto. Quando o Álvaro adoeceu, eu assumi o controle da família. Tive que ser a matriarca persistente para manter a harmonia entre os filhos, as noras, o genro, e netas e netos. Em tudo eu me metia e o que mais se escutava era “fale com a mãe, que ela resolve”, ou, “procure a vovó, que ela sabe”. Até em assuntos íntimos de afeições eu opinava, onde colhi rancores. A neta Alice namorava um desconhecido que não trabalhava. “Tome cuidado querida Alicinha, este homem não é bom para você. A paixão excessiva encobre o comportamento nocivo”, eu dizia. Ela me devolvia um sorriso mal humorado. Soube-se depois, era um traficante procurado pela polícia. Minha premonição acertou em cheio.

- O Álvaro, indiferente aos desacertos familiares, não se metia em nada. Cada vez mais doente, só se preocupava em tomar remédios e nos jogos de dominó na praça pública, com seus amigos aposentados. Até sua morte, há doze anos. Mas o pior destas intervenções na vida alheia estou colhendo agora: deixaram-me sozinha. Todos se afastaram, como se eu tivesse uma doença contagiosa, ou um coração duro e frio. Só me chamam quando precisam de dinheiro, para suntuosas festas ou viagens de navio.

- Aliviaram minha angústia as obras sociais, a que me propus como voluntária, inclusive no hospital onde o Pedro foi internado. Pelo que passei, eu entendia o sofrimento da família vendo o filho agonizante, mas compartia da extrema felicidade quando o ser querido retornava para casa, são e salvo. Por tudo isto, meu neto Leandro, agora eu desejo a minha recompensa, a minha paz. Cumpri a missão de mãe e avó, destinada a toda mulher. Acho-me no direito de escolher com quem passar até o fim dos tempos. Com alguém que me amou de verdade, ainda que de forma juvenil. A flor que o Pedro me deu há mais de setenta anos foi a única que recebi com sinceridade em toda a vida. Com ela veio um pedaço do seu coração. Deus deu-lhe vida curta e ele se apressou em deixar sua mensagem de amor e gratidão, escolhendo-me sua portadora. Um menino, Leandro, um menino - ela finalizou, compassiva, deixando verter uma gota de lágrima.

Ao neto Leandro coube descrever o que aconteceu após o marcante desafogo da matriarca.

- O túmulo foi construído conforme a vovó recomendara. Sua virtude detalhista nos levou a ir lá muitas vezes, para conferir. Na gaveta inferior colocaram os ossos de Pedro Amaral. A de cima ficou no aguardo do corpo dela.

- Quanto aos genitores do Pedro, descobri que se divorciaram, saíram da cidade, e o menino foi esquecido de vez. Menos por minha avó Cecília, que se excedia em devaneios. Pedro, para ela simbolizava um ente sagrado. Quando conhecia alguém com este nome, seus olhos brilhavam e queria saber de onde viera e qual sua idade. Isso eu testemunhei.

- Três anos após o término do sepulcro, o inevitável aconteceu, no meio de um rigoroso inverno. Um infarto fulminante conseguiu derrubar minha surpreendente, preciosa e querida avó Cecília Maria Rezende. Com muito custo, consegui convencer meus pais e tios de que ela queria ficar em outro local, longe do jazigo da família.

- Na urna, o semblante da vovó estava sereno, um seguro prenúncio de que alguém estaria à sua espera. A capela do velório ficou pequena para tanta gente. Eu não imaginava que ela tivesse tantos amigos. O cortejo até o túmulo seguiu em absoluto silêncio. Só se ouviam as passadas no piso de cimento. Uma breve oração de adeus e o ataúde, com argolas e frisos prateados, deu entrada na morada final, sob aplauso intenso e demorado.

- Além da despedida, as pessoas vieram conferir o cumprimento do último desejo dela: ficar junto com um menino que falecera em 1944. Era o assunto dominante no seleto meio social da cidade, por aqueles dias. Somente eu conhecia a sublime razão.

Terminado o ato fúnebre, o homem do cemitério cobriu a tampa do túmulo com as jardineiras repletas de gerânios. Ao sopro do vento, as flores coloridas reverenciavam a duas almas bondosas que se conheceram em vida e se amarão na eternidade.

Uma escada feita de luz apareceu no ambiente celestial. De um lado, surgiu uma vistosa senhora de cabelos dourados, envolta num vestido branco, esvoaçante e brilhoso. Do outro, apresentou-se um homem alto, de terno preto e gravata branca. Os dois se abraçaram.

- Meu querido Pedro, você cresceu e está muito bonito, obrigada por me esperar – disse a mulher com os olhos reluzentes.

- Você continua bela, inesquecível Cecília. As pessoas de bom coração serão sempre esperadas, e muito bem-vindas – respondeu o homem, em afetuoso sorriso.

De braços dados e contemplativos, subiram os degraus iluminados, na direção do paraíso.

FIM

Elenco:

Cecília Maria Rezende (conta a história)

Pedro Amaral (o menino protagonista)

Ana Cláudia (a professora)

Álvaro Rezende (esposo de Cecília)

Roberto, Roséris e Raulino (filhos de Álvaro e Cecília)

Leandro Rezende (o neto de Cecília)

Carlos Silva (o homem do cemitério)

Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas considere-se mera coincidência.

GERÂNIOS – Um conto quase verdade.

Autor: Rudney Otto Pfützenreuter, de Florianópolis-SC

Advogado e Escritor (9 livros)

48-3334-3445 / 99981-3542 - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Participa da:

Academia São José de Letras – ASAJOL – Cadeira 16, e

Academia de Letras de Palhoça – ALP – Cadeira 7

Sócio da Associação Literária Florianopolitana.

Fonte dominante: Times New Roman 12

Permitido reproduzir, somente integral e com citação do autor.


 A Corista Que Veio de Longe

Um Conto Musical

I. A arte por ideal

Antenor Bastos era um exímio alfaiate que se dedicava com esmero à arte de coser as casimiras e tropicais, a serviço da moda masculina. Seu trabalho caprichoso era preferido pela exigente clientela, por isso, o aperfeiçoamento haveria de ser cada vez mais aguçado, para não desmerecer a confiança conquistada.

Afora o trabalho rotineiro no trato com os panos, Antenor exercia, em paralelo, outra atividade, unicamente por ideal. Era a vocação em tocar oboé. A paixão pela música clássica despertou-lhe a vontade de aprender este instrumento de timbre áspero e estridente. Em pouco tempo, o esforço concentrado teve sua recompensa ao ser convidado para a orquestra da cidade.

Na relação amorosa, Antenor não tivera sorte. O casamento foi uma aventura infeliz ao conviver com uma criatura desdenhosa ao seu meio artístico. Por mais que ele tentasse persuadir, a esposa não conseguia compreender a vida dedicada ao domínio do instrumento musical. Antenor preferiu a arte e sair de casa, a ter que escutar as afirmações aleivosas e debochadas contra seu apuro em busca da perfeição.

Vivendo sozinho, tinha um ponto vulnerável: era um pródigo, quando a necessidade sexual o assediava. Nos finais de semana, cerrada a porta da alfaiataria, percorria os tantos cabarés, entregando-se ao mundo libertino do baixo meretrício. Era a vingança particular contra a timidez que o atormentava, querendo provar a capacidade de se suprir e contar aos amigos a aptidão em dominar uma mulher. Com o exagero da bebida e o esbanjo financeiro, entretinha-se até o final da noite. De manhã, envergonhado, avaliava os atos desprezíveis que praticara. “Nunca mais farei isso”, jurava à própria consciência. Na semana seguinte, após o terceiro conhaque, o juramento vestia a fantasia do perjúrio e a devassidão se repetia.

II. O encontro

Olhando através da vidraça, Lorena admirava os transeuntes andarem sem pressa pela calçada, no outro lado da rua. Eram homens engravatados ou em roupas esportivas, e mulheres com bolsas sociais ou portando sacolas cheias de compras. Crianças passavam equilibrando-se em patinetes, outras uniformizadas carregavam a mochila escolar às costas. Do quarto, no último andar do hotel, mentalmente Lorena comparava aquele desfile com os viventes da cidade de onde viera. Lá, os pedestres não andavam, corriam. As pessoas viviam assustadas, como se na próxima esquina alguém estivesse em tocaia.

Talvez por isso, Lorena fosse tão arredia ao convívio social. De tanto se amedrontar na grande metrópole, seus instintos de escolha acabaram não se desenvolvendo, tal a vida pudica em que se moldou, sob a severa vigilância dos pais. Os poucos contatos com o sexo oposto eram restritos a colegas de aula ou a profissionais da escola de música, no centro da cidade, onde adestrava sua voz ao apuro da teoria musical clássica, o sonho maior. No primeiro relacionamento amoroso casual, viu-se contagiada e em poucos meses subia o altar com véu e grinalda. Usufruiu a vida a dois com dignidade, até onde pode. Os dias felizes, porém, foram se esvaindo e o interesse mútuo passou a ser uma página virada. Lorena não abria mão do pendor artístico, ante as exigências do parceiro para dedicar-se somente ao lar. Enciumado e sem controle, o marido embriagava-se dia após dia e em pouco tempo o casamento estava desfeito.

Para apagar o trauma, Lorena atirou-se de vez ao estudo da interpretação lírica e em questão de meses era a melhor soprano do conservatório. A promoção transformou sua vida, levando-a a constantes turnês.

E, finalmente, ali estava ela, num hotel da pequena cidade, à espera dos atos que precedem um grande concerto.

No primeiro ensaio ela foi apresentada à orquestra.

— Senhora Lorena Martins, primeira soprano – falou o maestro aos músicos. Enquanto cada um se levantava e anunciava o nome, Lorena inclinava a cabeça, respeitosa.

— Muito prazer, senhor – dizia ela, com um sorriso faceiro.

Quando o oboísta se pôs de pé, Lorena foi surpreendida com um latejo diferente. O homem de rosto fino e olhos decididos despertou-lhe excessivamente a atenção.

— Antenor Bastos é o primeiro oboísta, e quem vai acompanhá-la na ária – explicou o maestro, muito feliz por conseguir, finalmente, executar o arranjo de sua autoria, da pauta mozartiana para o seu coral e orquestra.

— Que prazer, Antenor.

Sendo o único a quem a mulher não chamou de senhor, o instrumentista viu-se tocado por um sentimento de intimidade, corando-lhe o rosto.

— Sinto-me honrado em acompanhá-la, senhora – respondeu Antenor, surpreendendo-se com a própria franqueza.

— A honra é toda minha, Antenor. Aposto na sua capacidade.

Começava ali uma recíproca admiração. Lorena viu em Antenor um pouco de quietude, responsabilidade e dedicação. Nos ensaios que se seguiram, mais ela se empolgava ao descobrir que, à sisudez da abnegação, juntava-se a técnica perfeita. Repetia ele com paciência os compassos tantas vezes quantas necessárias, até o perfeito sincronismo da voz com o som agudo do seu instrumento.

Antenor, após cada ensaio, entregava-se a devaneios sobre os encantos de Lorena. Olhos amendoados, nariz afilado e lábios carnudos davam-lhe a dimensão de uma diva perfeita. Sozinho na cama, imaginava mil formas de como iniciar uma conversa mais íntima com ela. “Qualquer adjetivo inconveniente poderá estragar tudo” era seu medo. Haveria de ser cuidadoso, pois seu palavreado era mais propenso ao despudor, que para gente polida. “Não posso perder esta chance” decidiu. Absorto em seus pensamentos, Antenor acreditava que Lorena seria a última tentativa em conquistar uma bonita companheira de nível intelectual idêntico ao seu e dar um final à mórbida vida de ermitão.

Tudo ia depender do sucesso ou fracasso na noite do concerto.

III. A noite, afinal

Aquela sexta-feira foi para Antenor um dia especial. Trabalhara com a maior atenção possível para não perceber o passar demorado das horas. Concentrava-se no alinhavo e costura dos panos, mas, quando menos esperava, a mente o traía e vinha a suposição de como seria maravilhosa a próxima noite.

Terminado o expediente, como fez durante toda a semana, fechou as portas do ateliê e demandou-se para casa. Feita a alimentação rápida, vestiu o terno preto sobre a camisa branca e ajeitou a gravata bordô. Aí começava a trajetória mais esperada desde o começo do dia. Apossou-se do surrado estojo preto do oboé e das folhas soltas com manuscritos musicais, e tomou assento no pequeno automóvel, saindo em disparada pela grande alameda.

Mais alguns minutos e já se viu no interior do teatro. A todos Antenor dirigia amistosas reverências, com votos de muito sucesso. Igual a ele, cada músico trazia um estojo atípico, identificando o instrumento em que se especializara, a maioria desde o começo da vida. Sua primeira providência, ao se sentar, foi dispor as páginas musicais na estante de alumínio e montar o delicado oboé. Após conectar as três partes, passou a camurça na madeira de ébano brilhante, como a excitar o corpo de uma deusa.

IV. A orquestra e o coral

Após dedilhar algumas notas para reavivar a coordenação motora dos músculos, Antenor acompanhou o silêncio que se fez no teatro lotado. Igual a todos, empinou o tórax, em obediência ao momento precedente à entrada do maestro.

Da platéia, vinha o frio artificial do ar condicionado, acompanhado da mistura de perfumes, espargidos pelo auditório seleto.

Atrás da orquestra, obedecendo a curvatura da concha acústica, enfileirava-se o coral, no estrado em escada. Cada um portava o caderno de capa preta, com as letras musicadas. Trajados com roupas escuras, como adorno os homens usavam gravata cinza clara, enquanto as mulheres se padronizavam com echarpe elegante, na cor dourada.

De soslaio, Antenor conferiu a presença de Lorena, que insistia em não sair de sua imaginação. Ela, num vestido azul brilhante, na condição de solista ocupava lugar sobressaído, à frente dos cantores.

Aos aplausos do público, o maestro surgiu dos bastidores e caminhou para a frente do palco, passando aos cumprimentos entre os músicos, que se puseram de pé. Trajando um vistoso fraque, todo preto, o regente dava mostras de ter atingido os sessenta anos, mantendo o corpo ereto e disposição férrea para transmitir a sabedoria musical. No elevado, curvou o corpo à platéia em agradecimento e voltou-se à orquestra, que se sentou. Todos atentos, o maestro desenhou no ar um gesto de chamamento com a batuta. Os músicos posicionaram os instrumentos como propensos à largada de uma viagem idílica, dividindo as atenções entre a pauta e a regência. Quando a batuta desceu com rapidez, o fragor de notas que se desencadearam enlevou os instintos dos ouvintes a um relaxamento cerebral prazeroso.

Enquanto os violinos e violas delineavam o tema da abertura, as cordas baixas entoavam os acordes. Os sopros repetiam a estrofe principal, ornamentando novas variações. Assim, cada instrumentista participava em corpo e alma de um banquete harmonioso, refletindo o capricho da execução nos movimentos involuntários do tronco.

Como a convocar uma deusa pagã para o deleite dos justos, a orquestra, em uníssono, fez uma nota de espera. Aceitando o convite, o coral cadenciou o mesmo tom e iniciou o cântico, realçando o motivo da composição.

Os sons graves acompanhavam as vozes masculinas, enquanto as femininas se associavam aos agudos.

Mozart, com seu gênio criativo, soube dar a cada instrumento o destaque no momento preciso. Eram violinos, violas, violoncelos, flautas, clarinetes, fagotes, trompas e, por fim, o oboé de Antenor. À medida que as notas musicais saltavam da pauta uma sensação agradável envaidecia-lhe a alma.

Quase ao meio da peça, uma voz feminina preencheria uma lacuna de silêncio, tendo ao fundo um oboé, a quem o compositor confiara fazer-lhe companhia.

Dado o acorde perfeito, a batuta apontou na direção de Antenor, para onde também os ouvintes se atentaram. Chegara a sua hora mais esperada.

V. O dueto

O oboé e a voz da corista lançaram no ar o dueto cheio de acordes perfeitos dentro do tema inicial da composição.

Apesar do superficial nervosismo, Antenor inflava os pulmões com disposição, fazendo o sopro entrar na madeira pela palheta e fugir pelos orifícios abertos por seus dedos, obedecendo às notas variando a linha melódica, ora uma semibreve em trinado, ora um andamento em surdina. Era o apogeu de sua carreira. Em cada expirada de ar ia um pedaço de sua vida.

Lorena fazia a laringe vibrar as cordas vocais, em afinação com a música apaixonada. Naquele momento transmudara-se em Zerlina, a bela camponesa inspirada por Wolfgang Amadeus Mozart, no ato de afagar o amante Masetto Francesco, da majestosa ópera Don Giovanni.

Encantado, o público conferia o sucesso e se deliciava com o perfeito sincronismo. Ungidos pelo som prazeroso, os solistas invadiam a sensibilidade do público e dos demais músicos, todos em absoluto silêncio.

Terminado o dueto, orquestra e coral juntaram-se à melodia, até o final apoteótico do concerto.

Os demorados aplausos retribuíram com louvor o esforço coletivo de muitos dias. Orgulhosos, músicos e coralistas curvaram-se em agradecimentos. Um buquê de rosas vermelhas foi entregue à Lorena, que agradeceu num encantador e espontâneo sorriso, sob aplauso acelerado.

Quando todos se retiravam, Antenor acomodou o oboé no estojo, com o devido cuidado. Ao juntar as partituras, olhou na direção de Lorena. Para seu desespero, o estrado estava vazio. A saída dela, sem lhe propiciar ao menos um aceno, ensejou-lhe uma repulsa desenfreada, acreditando que ali terminaram suas esperanças.

Decepcionado, à baixa voz, jurou nunca mais procurar alguém para companhia. Apressado, nem se despediu dos outros músicos. Descuidado, acabou derrubando uma estante, espalhando pelo chão as partituras do segundo violoncelo, saindo sem ao menos pedir desculpas. Inconformado, desceu a escada do palco e entrou no corredor que terminava nos camarins. Tinha conhecimento de que a saída não era ali, mas a teimosia o instigava a procurar Lorena. Queria saber por que ela se fora sem qualquer despedida. Se a encontrasse, seria capaz de admoestá-la com palavras indelicadas. Ao chegar no limite da parede deu meia volta, e andou mais depressa, enquanto as luzes iam se apagando e o silêncio crescendo.

Induzido pelo detalhismo atroz, ainda subiu a escada em caracol de acesso à ribalta. Do alto, buscou alguma alma perdida na platéia ou nos camarotes. Tudo estava deserto.

“Se alguém me encontrar aqui, vai me chamar de débil mental”, chegou a pensar. Um calor subiu-lhe a cabeça, avermelhando a testa e turvando a visão. “Só me resta o meio degradante do amor comprado”, concluiu.

VI. Notas vocalizadas

Sem ninguém para contar seu drama, Antenor acelerou as passadas em direção à saída. Sentindo-se derrotado, pisou com tanta força no chão de tábuas largas que os sapatos protestaram com um rangido estridente.

Da porta, desceu a rampa de acesso ao estacionamento, nos fundos do terreno. De mãos nos bolsos e cabisbaixo, com o estojo sobraçado, caminhou em direção ao seu único companheiro, o velho automóvel.

A noite já ia longe e uma brisa refrescante tendia a esfriar seu corpo dentro do terno escuro. Do céu, a lua em minguante assistia silenciosa ao caminhar trôpego do desconhecido.

Na tentativa de atenuar o cruel desapontamento, Antenor encheu os pulmões e iniciou um assobio, solfejando os acordes musicais da peça recém-executada. Enquanto andava, no entanto, uma tênue voz feminina começou a modular a mesma composição. Pressentindo o fortuito acompanhamento, Antenor interrompeu o solfejo e estancou as passadas. A voz também silenciou. Querendo certificar a suposição, retomou a caminhada, assobiando com mais força. O mesmo canto voltou a acompanhá-lo, cada vez mais perto.

Reconhecido o timbre, Antenor, radiante, acelerou os passos. Ao se aproximar do carro, foi tomado por um arroubo de alegria.

Como os raios do sol que irrompem a neblina espessa, a silhueta de Lorena ia saindo da penumbra, refletindo nos olhos lacrimejados o brilho do luar, enquanto assobio e voz se harmonizavam na afetuosa melodia.

Naquela noite, em algum lugar da cidade dois corpos reviveram deliciosas emoções.

FIM

A CORISTA QUE VEIO DE LONGE – Um conto musical.

Autor: Rudney Otto Pfützenreuter

Advogado e Escritor (9 livros) – Florianópolis-SC

48-3334-3445 / 99981-3542 - Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

Participa da:

Academia São José de Letras – ASAJOL – Cadeira 16, e

Academia de Letras de Palhoça – ALP – Cadeira 7

Sócio da Associação Literária Florianopolitana - ALIFLOR.

Fonte dominante: Times New Roman 14

Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas considere-se mera coincidência.

Permitido reproduzir com citação do autor.

Fpolis, 04OUT2019.

 

Noite de Natal

Naquela noite, toda a família reuniu-se na casa dos avós, para festejar o solene encontro natalino. O ambiente era mais que propício: crianças correndo, cheiro de boa comida e vozerio de alegria. Ao fundo, escutava-se um som fugidio de piano.

De repente, serenaram-se os ânimos. A luz principal foi apagada, enquanto o iluminador de led se encarregou de avivar o brilho dos enfeites da grande árvore.

Heitor, um menino de nove meses, arregalou os olhos. No colo da mãe ele movimentava ouriçado as pernas e braços, ante a iluminação surpresa. Comovida, a mãe sentiu a reação do filho no calor dos corpos.

Seguiu-se um espaço para mensagens de agradecimentos e projeções espirituais, através de rezas, contos, poemas e cantorias alusivas.

Em seguida, o ápice, alguém anunciou a chegada do Papai Noel. Ele adentrou na grande sala com sua barba branca e roupa vermelha, trazendo tantos receptáculos de presentes.

Terminada a distribuição festiva, restou ao pequeno Heitor a última surpresa, para onde todos se voltaram. O menino, assustado, recebeu o pacote, sem nada compreender a razão do estranho homem de fantasia. Amedrontado, contraiu o rosto, pronto para chorar.

O Noel, ante o rosto lacrimoso do menino, tirou a barba postiça, dando-se a reconhecer o pai amoroso, provocando na criança um exaltado riso infantil. Depois, Heitor apontou e dedo e balbuciou, bem devagar: PAPÁ, PAPAI. Eram suas primeiras palavras. À reação inesperada e prematura do menino o casal se abraçou, envolvendo a criança com toda força. Enquanto pai e mãe caíram num copioso choro de alegria, sob aclamação dos familiares.

A TODOS, VOTOS DE UM BOM NATAL E FELIZ ANO DE 2020.

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