Panegírico


Panegírico em louvor a Oswaldo Rodrigues Cabral - 11/10/1903 - 17/02/1978.

Por: José Isaac Pilati.

Apresentado no dia 06 de dezembro de 2003, às 15h00min, no auditório da TV UFSC - Florianópolis - SC.

PANEGÍRICO PRONUNCIADO POR JOSÉ ISAAC PILATI, TITULAR DA CADEIRA Nº 09 DA ACADEMIA DE LETRAS DE PALHOÇA AO SEU PATRONO OSVALDO RODRIGUES CABRAL, EM 06 DE NOVEMBRO DE 2003.

A Academia de Letras de Palhoça foi a última criação do imortal líder da Academia Catarinense de Letras Paschoal Apóstolo Pítsica. Paschoal engendrou a nova instituição, na idéia e no sentimento, com o parceiro de todas as horas João Francisco Vaz Sepetiba. Os dois reuniam-se na residência de Paschoal no Edifício Augustus, na rua Artista Bittencourt, em Florianópolis; almoçavam juntos, saiam, voltavam e retomavam as revisões de textos que a Academia publicava sistematicamente na coleção ACL; porém, nos intervalos, desenvolviam a idéia de fundar a Academia de Letras de Palhoça. A futura Academia deveria atuar.também, na articulação das congêneres municipais.

João Francisco Vaz Sepetiba tinha irrestrita admiração por Osvaldo Rodrigues Cabral, que reputava o homem mais inteligente que conhecera. Freqüentara-lhe a casa e tinha orgulho de contar-se no rol restrito dos amigos do grande historiador, médico, político, professor, antropólogo, literato e desbravador intelectual. Foi dessa veneração, dessa estima e desse profundo conhecimento da obra de Cabral, compartilhada com o ilustre parceiro Apóstolo, que surgiu a idéia de resgatar-lhe a memória na condição de patrono de uma das cadeiras.

Na verdade, discutiam dois problemas: quem seria o patrono da cadeira a ser ocupada pelo grande nome da novel Academia, que seria Ivo Silveira? E quem ocuparia, como fundador, a cadeira do Patrono Osvaldo Rodrigues Cabral? Decidiram assim: Ivo Silveira seria tanto patrono como titular da Cadeira nº 07; e a Cadeira nº 09, de Osvaldo Rodrigues Cabral, seria destinada a alguém que não tivesse tido envolvimento com as polêmicas do ilustre patrono. Alguém que se voltasse à obra do grande intelectual. Por que, além disso, a escolha terminou no meu nome?

A decisão por um “homem novo”, no sentido romano, decorreu desse critério. A Cadeira seria ocupada por uma pessoa que não teve contato com o Patrono em vida, perfeitamente isento perante a obra de Osvaldo Cabral e os seus desafetos – que teimavam em não lhe reconhecer o ius imaginis no Panteão dos grandes nomes da intelectualidade catarinense. Não na forma como merecia e merece.

Mas houve outro fato que inspirou os dois fundadores, um deles aqui a presidir esta sessão no plano físico. No dia em que foi sepultada dona Olívia – a viúva de Osvaldo Rodrigues Cabral – fui com Paschoal Apóstolo até a residência do casal, na Esteves Júnior. Era o primeiro dia da casa sem eles, no calor do adeus. O portão estava encostado. Entramos calados e respeitosos no silêncio da calçada, das árvores e da casa – de repente na história. Os objetos pareciam olhar-me com força primordial, de lembrança. Da porta vimos um homem, que solitariamente observava um piano ou coisa assim, e seu olhar súbito tinha a mesma aura do portão, das árvores e da calçada, subitamente inacreditáveis. Nunca tive contato os proprietários, mas me senti como o sacerdote de Numa Pompílio adentrando o templo da Deusa da Boa-Fé, com as luvas do respeito e da admiriação.

Toda vez que Paschoal e Sepetiba falavam em Osvaldo Cabral em minha presença, eu associava essa história e eles viram nisso, talvez, um desígnio, se não foi o próprio desígnio que se serviu deles nessa história. Ao fundar esse sodalício, atribuíram-me a função de assentar sobre o marfim curul, a imagem do grande intelectual e historiador catarinense Osvaldo Rodrigues Cabral.

Os auspícios também me aproximaram do médico Airton Ramalho, cunhado de Cabral, e a nossa amizade, espontânea como toda obra do acaso, revelou-me aspectos e fatos íntimos da vida do meu futuro patrono. Paschoal Apóstolo Pítsica tinha grande admiração por Airton Ramalho, homem de têmpera e valor, e freqüentemente fazia-me portador de convites e de livros da Academia ao famoso médico e sua esposa Terezinha, renomada artista plástica

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