Discurso do Acadêmico José Pilati, saudando a Ivo Silveira.

Discurso de saudação a Ivo Silveira, proferido pelo Acadêmico José Isaac Pilati, Titular da Cadeira nº 09 da Academia de Letras de Palhoça, no dia 18 de junho de 2013, na Câmara Municipal de Palhoça - Santa Catarina, durante a Sessão Solene de Entrega do Prêmio Ivo Silveira de Cultura, outorgado pela Câmara e pela Academia, ao Jornalista Juarez Artur Hoffmann Nahas.

 

Excelentíssimo Senhor Vereador Arlindo Fernandes Moraes, Presidente da Mesa dos trabalhos dessa Sessão conjunta da Câmara Municipal e da Academia de Letras de Palhoça, em cujo nome eu saúdo as autoridades e o povo de Palhoça; Excelentíssimo Vereador Luiz Henrique Sell, em cujo nome eu saúdo os demais edis, que tanto prestigiam a nossa ALP; Ilustríssima Confreira Sônia Terezinha Ripoll Lopes, Presidente da Academia de Letras de Palhoça, em cujo nome eu saúdo os eminentes pares do Sodalício, representantes e confrades das Academias coirmãs da Grande Florianópolis, assim como os escritores, artistas, intelectuais e professores do Município de Palhoça; ilustre agraciado Jornalista Juarez Artur Hoffmann Nahas e seus distintos familiares e amigos aqui presentes; Senhores confrades homenageados com o Diploma e o título de Incentivador da Cultura; prezados integrantes do coral, senhoras e senhores.

 A confreira Presidente Sônia Ripoll Lopes introduziu o costume de a cada entrega deste Prêmio da Cultura, proferir-se um breve discurso de louvor ao grande palhocense que dá nome a esta honraria anual; exatamente para introduzir no recinto desta Câmara Municipal e da Casa Paschoal Apóstolo Pítsica de Cultura, a guisa de memória, saudade e Devir, a presença imortal de Ivo Silveira a unir o presente e o futuro desta terra; é este, por isso, um momento incensado de magia, em que as palavras encarnam a alma dos pássaros aos olhos de Deus, pois se trata do canto da terra.

García Lorca em um poema dedicado a esse estado de espírito a que me refiro, e que somente a dimensão humana proporciona, porque situado entre o eterno que é divino e a perenidade que é das dores do mundo, Garcia Lorca, o rouxinol granadino diz, simplesmente assim:

Mi corazón está aqui,

Dios mío.

 

Se tu não queres tirar dele los gavilanes que tanto o ferem no sofrimento dos vivos, tanto se me dá. Fica com o teu céu azul, e

el rigodón de los astros,

y tu infinito,

que yo pediré prestado

un corazón a un amigo.  

Sim, senhoras e senhores, a forma mais próxima do sublime e da perenidade, num momento como este, somente se alcança com coração emprestado de um amigo, o nosso para Ivo Silveira, e o dele para nós, palhocenses, num momento de confraternização no plano de povo, na dimensão da perenidade, no reino mágico da nação e da cultura, neste dia votivo e sacrossanto.

Mas certamente um coração com os arroios e árvores e as montanhas azuis deste recanto verde da Palhoça; e no meio de tudo como alma, un ruiseñor de hierro  (um rouxinol de ferro), que resista el martillo  de los siglos (que resista o martelo dos séculos, o martelo do tempo e do esquecimento).

A grande preocupação de Fernando Pessoa com o seu Portugal era a criação de um mito nacional, um sonho de identidade; que em si não é nada, mas que coletivamente é tudo, porque é nação, é pertencimento. E na raiz da identidade portuguesa perseguida por Pessoa brilha a figura impoluta do campônio Viriato, que Roma tentou, mas não conseguiu derrotar. Diz, então, o Poeta dos heterônimos, referindo-se ao herói compatriota:

 Nação porque reencarnaste,

Povo porque ressuscitou.

Não há outro caminho, pois, para a construção da identidade, que não seja o da memória e a memória pela cultura. Volto a Garcia Lorca para encerrar:

 Aqui, Senõr, te dejo

mi corazón antiguo,

voi a pedir prestado

outro nuevo a un amigo.

Corazón con arroyos

y pinos.

Corazón sin culebras

ni lirios.

Robusto, con la gracia

de un joven campesino,

É por isso, senhoras e senhores, que a Academia de Letras de Palhoça e a sua Câmara Municipal criaram o Dia do Escritor no Município, e este Prêmio, hoje merecidamente entregue, na sua terceira edição, ao Jornalista Juarez Artur Hoffmann Nahas. Prêmio que é entregue com a emoção de um coração emprestado da imortalidade, o coração do nosso conterrâneo e sempre Governador e sempre confrade da ALP, Ivo Silveira, el campesino robusto, que atraviesa de un salto el río de los tiempos.

Muito obrigado!