Discurso proferido pelo Acadêmico Antônio Manoel da Silva, o Biéli, Titular da Cadeira nº 17 da Academia de Letras de Palhoça, na Sessão Solene de Entrega do Prêmio Ivo Silveira de Cultura, realizada no dia 19 de abril de 2011, às 20h00min, na Câmara Municipal de Palhoça - Santa Catarina.
Meus cumprimentos aos membros da Mesa, em especial, à Senhora Presidente da ALP, Sonia Ripoll.
Senhoras e Senhores, Boa Noite!
Gostaria de iniciar esta alocução, com uma frase já bastante surrada e bem conhecida de todos nós, mas que, de certo modo, creio que possa servir para elucidar o entendimento sobre a história do nosso município.
“A história de Palhoça, para ser contada, pode ser didaticamente dividida em dois períodos: antes e depois de Claudir Silveira.”
Se grande parte dos dados históricos que dispomos hoje, atribui-se às obras literárias deixadas pelo ilustre palhocense José Lupércio Lopes, não há como negar que, depois dele, um novo vulto se sobressai, no tocante à pesquisa histórica desta cidade, e na guarda de preciosos elementos históricos e culturais, que se chama Claudir Silveira, outro brilhante filho desta terra.
Claudir era apaixonado por Palhoça, e desde 1976, embrenhou-se nas pesquisas, em busca de informações sobre sua terra, e que resultou no maior acervo histórico palhocense, jamais reunido por outro historiador ou pesquisador. São quilos e mais quilos de papéis, livros, jornais, revistas, documentos e outros objetos, todos mantendo íntima relação com a história e a cultura do Município de Palhoça. Dentre esses materiais, algumas preciosidades merecem destaque, como um fichário organizado cronologicamente desde o ano de 1526, e o primeiro jornal de Palhoça, O Lidador, publicado em 1902.
Este admirável trabalho realizado por Claudir Silveira, mesmo que de forma amadorística, além de resgatar informações de interesse histórico-cultural para o município, resultou, também, na publicação de três livros, nos quais imprimiu toda a pesquisa, e assinou, com deveras orgulho, a autoria.
A primeira obra literária recebeu o título de “Palhoça”, em homenagem a sua terra natal, e foi publicada no ano de 1980. A segunda, intitulada “Balaio de Caranguejos”, saiu em 1985. Por fim, no ano 2001, publicou “Município de Palhoça”. Todavia, a obra mais preferida do escritor, ele a chamou de “Palhoça, Capital do Universo”, e embora já estivesse pronta desde o ano 2000, não conseguiu apoio técnico-financeiro para publicá-la, somente divulgando-a no meio literário em forma de caderno. O mesmo aconteceu com outro livro de sua autoria, cujo titulo foi por ele nominado de “O Escrivão da Madrugada”, que apenas recebeu uma singela encadernação.
Afora essas obras, Claudir escreveu e distribuiu, durante toda a sua vida, mais de 70 livretes, com variados temas e títulos, todos editados de modo artesanal, por causa do alto custo cobrado pelas editoras, porque costumava dizer que “o ato de escrever só se conclui com a publicação”. Por isso, tudo o que escrevia, encadernava e distribuía, mesmo sem o devido refino editorial.
Claudir Silveira era natural de Palhoça e nasceu no dia 2 de outubro de 1939. Era filho de Jacob Santana da Silveira e Gedalva Vanuci da Silveira, sendo o quarto filho de um total de sete.
Fez seus estudos primários no Grupo Escolar Venceslau Bueno, em Palhoça. Os estudos secundários foram também concluídos em Palhoça, onde depois de matriculado no Curso Normal Regional Duarte Schutel, saiu formado Professor Rural.
Em 1958, ingressou na Força Aérea Brasileira, para o serviço militar. Dois anos depois, foi aprovado no concurso para Cabo e seguiu para São Paulo, a fim de fazer o curso. Após a conclusão, foi transferido para Canoas, no Rio Grande do Sul, onde recebeu a merecida promoção.
No ano seguinte, pediu transferência para a Base Aérea de Florianópolis, voltando a residir em Palhoça. Neste mesmo ano, escreveu o conto “Mangda Marúlia”, enquanto prestava concurso para Sargento da Aeronáutica, sendo também aprovado.
Novamente retornou a São Paulo para fazer o curso, desta vez, na cidade de Guaratinguetá. Lá escreveu inúmeros escritos, dentre eles, “Adeus Guaratinguetá” e “24 horas na vida de um aluno”, que foram publicados no jornal da Escola de Especialistas da Aeronáutica. Terminado o curso, foi designado para trabalhar na Base Aérea dos Afonsos, no Rio de Janeiro. Por lá escreveu “Estudos e Crônicas”, “Jardim Botânico” e “O Manual das Pessoas Perdidas”.
No ano de 1963, formou-se Técnico em Contabilidade, e em 1967, fez o curso de Educação Física, na Escola de Educação Física do Exército, passando a lecionar em vários colégios da Zona Norte do Rio de Janeiro.
Em 1970, transferiu-se para a Comissão de Desportos da Aeronáutica, onde passou a lecionar e a produzir muitos escritos sobre Educação Física, Desporto e Recreação. Escreveu “Futebol e Cultura”, “Cultura Desportiva”, “Antropodinâmica”, “Glossário de Educação Física” e “Biografia de Charles Astor”.
Lá mesmo, no Rio de Janeiro, conheceu Lia Moritz, e no ano de 1971, casou-se com ela, com quem teve dois filhos, Cláudia e Eric. Ainda morando no Rio, escreveu “Personalização”, “Cultura Geral” e “O Manual do Indivíduo Superior”.
Pediu transferência para a Base Aérea de Florianópolis, no ano de 1976, deixando definitivamente o Rio de Janeiro, e foi morar no bairro Carianos, próximo ao Aeroporto Hercílio Luz. A partir daí, começou a pesquisar e a escrever sobre Palhoça, e não parou mais. Nesse tempo, produziu farta literatura, constituída num conjunto de pequenas obras lançadas, grande parte inclusa dentro de seu plano literário, que ele mesmo chamou de Projeto Memória Palhocense.
A consagração viria já em 1980, quando publicou o primeiro livro, uma monografia sob o título “Palhoça”, ocasião em que fora convidado pela Associação dos Escritores de Santa Catarina e pela Secretaria de Educação do Estado, para elaborar quatro monografias para o PRONASEC, programa instituído pelo Ministério da Educação e Cultura - MEC. Atendendo ao pedido, escreveu “Sertão do Campo”, “Três Barras”, “Sorocaba” e ”Bom Retiro”.
Outra grande proeza seria conquistada em 1985, com a publicação de “Balaio de Caranguejos”, seu segundo livro, que obteve estrondoso sucesso, figurando entre os livros mais vendidos de Santa Catarina, e chegando a ocupar, em determinado momento, o 3º lugar, segundo pesquisa realizada pela Associação Catarinense de Editores e Livreiros - ACEL.
Escreveu, ainda, outros contos, até finalmente editar e publicar, no ano de 2001, seu último livro, intitulado “Município de Palhoça”, conforme já mencionado.
Aos 70 anos, já aposentado como Sub-Oficial da Aeronáutica, veio a falecer no dia 7 de janeiro de 2010, em sua residência, no bairro Carianos, vítima de infarto.
Tive o privilégio de conhecer e conviver com Claudir Silveira, e muitas foram as vezes em que nos encontramos e mantivemos contato, seja pela praça ou estabelecimentos comerciais da cidade, seja participando de eventos culturais por aí afora.
Certa vez, eu e o Claudir fomos convidados por uma turma de alunos do Colégio Governador Ivo Silveira, para participar de uma prova de gincana, na qual fomos “bombardeados” com perguntas, todas voltadas à questão literária de Palhoça, especialmente às obras por nós lançadas.
Claudir tinha o hábito de dormir cedo, geralmente por volta das 21 horas, e costumava escrever sempre entre 4 e 7 horas da manhã, porque dizia ficar mais “inspirado” com as vibrações e o silêncio da madrugada”. - “Sou escrivão da madrugada”, falava amiúde. Aliás, um de seus livros, levou este título, por conta disso.
A influência literária dizia ter recebido do escritor alemão Rainer Rilke, a quem dedicava profunda admiração. Contudo, desde o início da carreira, alimentava um certo ceticismo sobre a sua vocação literária. A certeza de que um dia seria, de fato, um escritor, só viria com a escrita do conto “Jardim Botânico”, quando ainda residia no Rio de Janeiro. A partir daí, não teve mais dúvidas de que a sua vocação estava intimamente atrelada à literatura.
Hoje, passados quinze meses desde que partiu deste mundo, a Academia de Letras de Palhoça, em conjunto com a Câmara de Vereadores da cidade, vem a público prestar-lhe esta justa e merecida homenagem – com o PRÊMIO IVO SILVEIRA DE CULTURA, por ter sido este homem, um notável cidadão palhocense, que cingido pelo espírito de sabedoria, perspicácia e simplicidade, produziu e deixou para o povo desta cidade, um legado de informações e conhecimentos de grande vulto.
Creio valer aqui evocar a célebre frase dita pelo filósofo alemão, Johann Goethe (pronuncia-se Lôrran Guête).
“O que passou, passou, mas o que passou luzindo, resplandecerá para sempre.”
Finalizando, digo às senhoras e aos senhores, que o tempo de vida de Claudir, nesta terra, também já passou, assim como todo o seu esforço e dedicação, em prol do que aqui realizou. Todavia, o fruto do seu trabalho, não. Este permanecerá vivo e atuante entre nós, e quiçá o povo desta cidade possa torná-lo indelével e inesquecível para esta geração e outras que hão de vir, de certa forma, pagando um tributo devido a este grande palhocense que foi Claudir Silveira. Um homem que, por onde passou, irradiou o brilho incessante da curiosidade, da fome do saber, da pesquisa histórica de sua terra e de sua gente.
Por tudo isso, é que nós, palhocenses, cada vez mais nutrimos a certeza de que, aonde quer que ele esteja, estará resplandecente de satisfação, em saber que o maior triunfo conquistado pelo seu trabalho, foi o reconhecimento inconteste de suas obras, pelos seus irmãos conterrâneos que aqui ficaram.
Muito Obrigado!
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