Panegírico

Panegírico em louvor a Horácio Serapião de Carvalho - 30/10/1872 - 06/02/1935.

Por: Maria José Carvalho de Souza

Apresentado no dia 26 de setembro de 2023, às 20h00min, na Sede da ALP - Palhoça - SC.

 

Exmo. Sr. Ney Santos, Presidente da Academia de Letras de Palhoça, Confrades e Confreiras, Senhoras e Senhores,

Horácio Serapião de Carvalho, tu, nascido em 30 de outubro de 1872, nas terras das salutares águas termais de Santo Amaro do Cubatão, atual Santo Amaro da Imperatriz (SC), foste um jornalista combativo, funcionário público dedicado e professor ilustrado.

Na tua infância e juventude, a leitura, o amor a educação e a liberdade de ideias, eram hábitos estimulados pelos teus pais, Marciano José de Carvalho e Maria Delphina Andrade. Na taberna de Marciano, tu e os teus amigos liam e discutiam livros e ideias abolicionistas e republicanas.

Sempre foste um funcionário público honrado e dedicado, tanto como secretário na Capitania dos Portos, quanto no Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina. No entanto, a docência acabou sendo a atividade a qual dedicaste o maior tempo de vida, compartilhando teus saberes com os jovens sonhadores. Tuas aulas de geografia são famosas pela criatividade e técnicas didáticas. Tua dedicação e sabedoria marcaram tua passagem no Liceu de Artes e Ofícios no Colégio Catarinense e no Colégio Jerônimo Coelho em Laguna. Em tua homenagem, um colégio recebeu teu nome em Siderópolis.

Tiveste uma vida marcada pela amizade com grandes expoentes da literatura catarinense, entre eles o grande poeta João da Cruz e Sousa, Virgílio Várzea e demais amigos da “Guerrilha Literária”.

Estes amigos, Cruz e Sousa e Virgílio Várzea, te distinguiram ao te convidarem para escreveres o prefácio do livro Tropos e Fantasias, em que para além da amizade, mostras um pouco do teu culto pensamento.

Com eles, atuaste nos jornais catarinenses, paulistas e cariocas que transbordavam ideias abolicionistas e republicanas, bem como um novo jeito de fazer literatura. Influenciado por estas ideias, defendias o ideal republicano escrevendo na Tribuna Popular, jornal que marcou a época da Guerrilha Literária. Estiveste ao lado da Revolução Federalista, que nos anos de 1893 e 1894 marcou Florianópolis para sempre, atuando no Tribunal da Relação.

Amigo de toda vida, Virgílio Várzea lembra tua personalidade calma e circunspecta ao dizer:

“era o mais alto e o mais corpulento dos rapazes da guerrilha. Tinha os cabelos castanhos e um todo ereto, calmo, pacífico, tolerante, bondoso e sobretudo delicado. Adverso a toda luta que não fosse a de princípios e ideias científicas ou literárias.”

Diz ainda o amigo: “Atuavas com grande prudência, moderação e civilidade, não admitindo nunca excessos, violências ou brutezas”.

Já, o grande poeta, e teu amigo, Cruz e Sousa, bem te descreveu, como:

“cérebro nevoento, como esses céus da Germânica e da Rússia, ao Centro do qual, porém, rebrilha o sol do pensamento sobre a amplidão azul da inteligência, que estranhos cúmulos e nimbos encobrem perenemente, permitindo apenas raras, raríssimas vezes, revelar-se por pequenas nesgas de luz que aparecem instantaneamente, lançando frases, ditos, conceitos e observações delicados sobre todos os assuntos – modo de ser fisiológico e neuropsíquico singular e inexplicável, sob o qual arde e flameja a brasa radiante de um grande e ansioso anelar de espírito, feição quase enigmática e fenomenal de uma bela organização humana, cuja psicologia o entendimento comum dos homens não apreenderá jamais, mas que os pensadores e os artistas sentem e compreendem nas suas manifestações superiores e efêmeras, sem lhe pretenderem sondar os motivos e as origens.”

Por todas as tuas qualidades como jornalista, professor e homem das letras, tiveste teu valor intelectual reconhecido em vida pelo amigo José Boiteux, o grande patrono da educação catarinense, ao ocupares, como fundador, a cadeira número 16 da Academia Catarinense de Letras.

No fim de tua vida, o cancro que te acompanhou por muito tempo e a depressão que o seguia, te levou a um triste recolhimento e isolamento. Sendo teus lindos desenhos, que rabiscavas nas paredes do quarto, lembranças dos tempos de juventude. Em 6 de fevereiro de 1935, chegaste à imortalidade.

A dedicação à família e aos amigos fazem de ti um exemplo para todos que acreditam nos laços imortais do amor e da amizade sincera.

Como tua bisneta, muito me orgulho, de toda a tua existência e legado, e honrada por ocupar a cadeira 10 da qual és o patrono da Academia de Letras de Palhoça.

Agradeço ao meu companheiro, Nelson Murilo Pessôa, pelo encorajamento, companheirismo, apoio, reflexões e o grande carinho; à minha filha, Ana Carolina Carvalho de Souza Domingues, pelo amor incondicional recíproco; a memória dos meus pais, Solon Carvalho de Souza e Nilda Rosa de Souza, pela vida, exemplo e estímulo à educação. E a esta agremiação que me recebeu de braços abertos e da qual muito me orgulho.

Finalizo com uma frase de Horácio de Carvalho, que usava como despedida em suas cartas aos amigos: “Aos valentes extremistas do ideal, sans peur et sans reproche, me compliments e enbracinigs!” Aos valentes extremistas do ideal, sem medo e sem censura, meus elogios e abraços.

Muito obrigada!

REFERÊNCIAS

SOUZA, João da Cruz e. Obra completa, Organizado por Lauro Junkes, Jaraguá do Sul; Avenida, 2008.  2 v.

VÁRZEA, Virgílio. Impressões da província: a tribuna popular e a guerrilha literária catarinense. Correio da Manhã. Rio de Janeiro, 17 mar. 1907, p.1.